– Carlos Eduardo, qual é o maior rio que nasce e desagua em Portugal?
É das poucas perguntas que tenho na memória do exame oral da 4ª classe, da Escola Primária de São Bento. Eu sabia os rios todos de cor do Minho ao Algarve, mas a professora Nicha cheia de nervos que alguém errasse, lá esbracejava os braços com os saltos altos a espernear, com as dezenas de pulseiras a tilintar sem discrição, gesticulando com os olhos pontiagudos e o queixo para a frente, atrás do inspetor do Ministério que fazia as perguntas e sem ele perceber, para o mapa de Portugal gigantesco com as cores das províncias que estava pendurado na parede do lado direito.
– É o rio Mondego. Nasce na Serra da Estrela e desagua na Figueira da Foz.
Resposta exemplar, claro. Minha, do Gonçalo e do Bruno. E lá passámos para o 1º ano do ciclo do Andaluz, numa escola gigantesca com salas enormes.
Ir às reuniões intercalares e sentar-me nas carteiras novinhas em folha da Escola Marcelino Mesquita é um luxo. Boas condições de iluminação, quadros interativos, tudo muito moderno mas mesmo em adulto o problema da entrada na sala de aula mantém-se: até que haja silêncio, o(a) diretor(a) de turma tem de começar a falar cada vez mais alto como se estivesse com um megafone, porque estar com 30 pais numa sala de aula calados a ouvir os comportamentos e notas dos anjinhos que temos em casa não é fácil.
Ser professor é isto: depois de um dia de mandar calar, repetir 10 vezes a mesma coisa a uma turma de 30 miúdos em polvorosa que só querem é brincar lá fora e não percebem porque é que as aulas são de noventa minutos, estão de sorriso aberto a ouvir os queixumes dos 30 pais que não percebem porque é que o filho é assim na escola. E no fim de tudo isto, não esquecer fazer o relatório, se faz favor.
PS: Há professores que não esqueço, como a professora de francês, Rosalina Melro. Que descanse em paz.
Crónica publicada na edição de dezembro do Jornal de Cá.