1º de Maio. Luta e festa dos trabalhadores!

Opinião de Renato Campos

A data do 1º de Maio tem desde há 130 anos, uma carga laboral e política significativa. Com efeito, é o Dia do Trabalhador, que tem a sua origem na primeira manifestação de 500 mil trabalhadores realizada nas ruas de Chicago em 1886 e numa greve geral nos Estados Unidos. Até àquela data, os trabalhadores, praticamente, não tinham direitos, senão a obrigação de trabalharem. Desde esse movimento, acompanhando as lutas civilizacionais, tem havido uma evolução significativa na conquista dos seus direitos laborais.

Em Portugal, também os trabalhadores assinalaram o “seu 1.º de Maio” logo em 1890, coincidindo com o primeiro ano da sua realização internacional. Mas as acções do “Dia do Trabalhador” limitavam-se, inicialmente, a alguns piqueniques de confraternização, com discursos pelo meio e a romagens aos cemitérios em homenagem aos operários caídos nessa luta. Durante o Estado Novo, malgrado ser um estado policial e repressivo, os portugueses souberam, muitas vezes com audácia e inteligência, tornear os obstáculos do regime à expressão das liberdades. As greves e as manifestações realizadas em 1962, um ano após o início da guerra em Angola, são provavelmente as mais carregadas de simbolismo. Nessa data, ficarão na história do operariado, as revoltas dos assalariados agrícolas dos campos alentejanos. Mais de 200 mil operários agrícolas, que até então trabalhavam de sol a sol, participaram nas greves realizadas e impuseram aos agrários e ao governo a jornada de oito horas de trabalho diário.

Claro que o 1.º de Maio mais extraordinário realizado até hoje em Portugal, com direito a destaque na história contemporânea do país, foi o que se realizou oito dias depois do 25 de Abril de 1974, no qual tive a alegria e o privilégio de participar e do qual, eu e milhares de portugueses, guardamos uma recordação indelével.

Actualmente, a luta pelos direitos dos trabalhadores ganha uma dimensão mais diversificada e politicamente mais estruturada. Sobretudo quando, entre outros desequilíbrios, se constata que na repartição da riqueza nacional, Portugal está mais desigual. Segundo dados divulgados já este ano pelo INE, a parte da riqueza criada em % do PIB que reverte para o factor trabalho, atingiu em 2015, o valor percentual mais baixo dos últimos 20 anos (33,7%). Este facto, mostra-nos que a repartição do rendimento pelos factores de produção gerado no país, tem-se agravado lesando o factor trabalho, aumentando com isso as desigualdades entre os portugueses com as correspondentes consequências sociais, constituindo, também, um obstáculo muito sério à recuperação económica do país, baseado na construção de um modelo de desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.


 

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