2020

Opinião de Ricardo Magalhães

Ao longo da minha vida sempre fui um rapaz apaixonado pelas minhas ideias, determinado, carinhoso, bem-disposto, curioso e crítico. E sempre vivi tão embrenhado nesta minha forma de ser, neste vivenciar o dia a dia com a naturalidade com que um pássaro come a sua minhoca pela manhã, ou com que um gato se deita ao sol para se aquecer, que nunca consegui realmente escrever que palavras fosse sobre o meu futuro.

Não é que nunca o tenha feito, mas tirando o meu sonho de infância de ser futebolista profissional, tudo o que eu projetava sobre o que aí vinha parecia desprovido de valor. Um texto de conteúdo bacoco, um corrupio de palavras na formação de ideias das quais desconheço o real dono. Sou eu que as penso, sou eu que as escrevo, mas serei mesmo eu de quem aquelas palavras falam. Ou apenas uma das muitas versões de mim que consigo imaginar. Qual será a minha identidade verdadeira? Como sei que a vida que idealizo é aquela que quero para mim e não aquela que acho que quero num dia e não mais fantasio no outro.

Como dizia Álvaro de Campos, tenho em mim todos os sonhos do mundo. O problema é que só posso concretizar alguns. E desses todos quero concretizar aqueles que são de facto meus. Confuso, eu sei. Mas o que quero dizer é que perante toda esta biblioteca de ideias desarrumadas, ziguezagueando por entre páginas pela mesma espalhadas, algo em mim sempre soube encontrar o caminho que me faz sentir realizado. É de facto inaudito que, depois de olhar para tudo o que o meu futuro pode ser, e de nele me perder vezes e vezes sem fim, que consiga olhar para o passado e nos olhos ter a certeza de quem sabe que viveu uma boa aventura.

Não sei o que chamar a esta jigajoga que me orienta tão proficuamente no desconhecido. (Sorte? Intuição?) Sei que algo em mim confia nela e que talvez por isso por vezes prefira não pensar demasiado sobre o futuro e deixar-me surpreender com que tem para me oferecer. Raramente poderia pedir melhor. Sou muito grato por aquilo que tenho na vida e por tudo e todos que de uma forma ou de outra vieram parar ao meu caminho.

Chegou o novo ano e do que aí vem pouco ou nada sei para além de que muita coisa vai mudar. Uma vez mais um oceano sem fim de possibilidades e alternativas povoam o caminho que se segue. Uma vez mais ignoro por completo o que de facto aí vem. Mas uma coisa é certa, espero um ano fantástico e ímpar, adornado de tudo aquilo que, de tão bom, não consigo imaginar. Mas melhor dizendo, mais do que esperar, sinto que 2020 vai ser um ano especial. E tudo aquilo que posso desejar é que o seja para vocês também!

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Abram alas para o novo ano!

*Artigo publicado na edição de janeiro do Jornal de Cá.

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