2021, agora é que é

Opinião de João Pedro Oliveira

Deixámos 2020 para trás com a expectativa que o novo ano encerrasse um dos capítulos mais sombrios do espaço europeu desde o pós-guerra. A aprovação de um conjunto de vacinas para o maldito vírus trouxe-nos a esperança de que no início de 2021 dobraríamos este cabo das tormentas, com um ciclo de recuperação económica alicerçado quer por uma demanda na procura, quer pela bazuca de investimento comunitário, que quiçá, à escala da minha vida, será a derradeira oportunidade para inverter a trajetória de um Portugal cada vez mais na cauda da Europa, no que concerne à riqueza das suas gentes.

Infelizmente os planos saíram furados logo no primeiro mês do ano. Um novo confinamento obrigou a um adicional esforço de todos, em particular, daqueles que encerraram as portas dos seus negócios, colocando as suas vidas em suspenso. A luz guia de uma normalidade que parecia estar ao alcance, mais não foi que uma pequena intermitência, num cenário ainda repleto de escuridão.

Acredito contudo que se estão a reunir condições para voltarmos a dar um passo em frente. É preciso no entanto paciência para que o SNS seja capaz de dar resposta aos que viram a resolução dos seus problemas de saúde adiados e que não podem ser deixados para trás.

No Cartaxo, o início do ano ficou ainda marcado por um acontecimento com elevadas repercussões nos bolsos dos munícipes. A TOS apareceu a todo o gás com profunda surpresa de todos (ou talvez não), demonstrando mais uma vez que a falta de sentido de responsabilidade, de planeamento e de análise tem um preço elevado, desta feita no curto prazo. Este assunto é tão ou mais grave pelo contexto de pandemia que atravessamos, pela postura de quem teve tudo para impedir esta situação e não o fez, assim como pela ausência de uma resposta que tarda em ter efeitos práticos junto dos consumidores afetados.

Ainda no início deste ano, importa dar conhecimento daquele que foi o fecho de contas do ano do município. Em 2020, a Câmara arrecadou cerca de 19,4 milhões de euros de receita (com forte pendor em impostos e taxas) e apresentou como despesa menos de 12,7 milhões de euros (uma execução de apenas 67% do valor previsto e já revisto).

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Dito de outra forma, em ano de pandemia, o município chegou aos 6,4 milhões de euros de fundos disponíveis, que estarão à sua disposição em 2021, tendo executado apenas 37% do que se propunha realizar em bens de capital (investimento e reparações de equipamentos, edifícios, etc.).

De facto a estratégia foi deixar passar a fita do tempo, com claro prejuízo para a vida daqueles que por aqui habitam. Ao invés de apostar no desenvolvimento de mecanismos de fomento à economia local, de aliviar fiscalmente os munícipes ou de, pura e simplesmente, cumprir as suas obrigações com a manutenção daquilo que é sua obrigação zelar, o atual executivo procurou munir-se em 2021 de um bolo a que chamará “Plano de Recuperação do Município”, que de facto não mais será que, o “Plano de recuperação da imagem do Partido Socialista do Cartaxo em ano de autárquicas”.

Num contexto completamente bipolar, continuamos a viver a bolsas de oxigénio que vão e vêm. Geralmente, de 4 em 4 anos.

*Artigo publicado na edição de março do Jornal de Cá.

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