Eu sou
Teimoso, alegre, simpático, curioso, tenho iniciativa e vontade, acessível, prestável, calmo.
Alegre e bem-disposto. É assim que chega João Guerra, maestro da banda da SFIP (Sociedade Filarmónica Incrível Pontevelense), à redação da Revista DADA para a conversa informal que deu origem a este perfil. Uma atitude que haveria de se manter ao longo dos cerca de 60 minutos de conversa. E é fácil perceber porquê: o jovem maestro, de apenas 25 anos, faz o que realmente gosta. Dirige a ‘sua’ banda, apesar de já ter tocado – e continuar a tocar – noutras da região, dá aulas na Escola de Música da SFIP, numa escola primária em Alverca, integra diversos agrupamentos musicais e compõe.
Vive com a mãe, Maria Luísa Duarte, em Pontével e declara-se apaixonado por todos os tipos de arte.
O percurso musical de João Guerra iniciou-se quando tinha nove anos, na SFIP. “O meu primeiro instrumento foi percussão. Mais tarde fui para o trompete porque, na altura, o maestro Edgar Nogueira achou que eu devia mudar de instrumento. E então comecei a estudar trompete, e quando entrei para o Conservatório, com 12 anos, já entrei como executante de trompete”.
No Conservatório Regional Silva Marques, em Alhandra, João Guerra fez os oito anos de formação, em paralelo com o 12º ano.
Eu gosto
De comer, de viajar para partilhar a minha música, de compor, jantar com os amigos.
Desde os 12 anos “frequentei várias bandas, a tocar”. “Aos 12 anos também entrei na banda do Ateneu Artístico Vilafranquense. Depois, passados uns três anos, entrei para a banda de Aveiras de Cima. E também fazia outros serviços com outras bandas, mas não era regular nos ensaios”.
Mas a formação de João Guerra não terminou por aqui, já que “posteriormente a sair do Conservatório, aprendi a tocar piano, guitarra, bateria…”.
Eu quero
Aprender a cozinhar bem, a dançar bem, a pintar melhor, realizar um filme, criar uma obra minha.
E as responsabilidades começaram logo desde cedo. “Quando estava cá o maestro Edgar, ele pedia-me muita ajuda para fazer coisas, mas ainda era muito pequeno. Depois, quando o Edgar saiu e veio o maestro da banda de Vale da Pinta, o Nuno Mesquita, ele nomeou-me para contra-maestro, para ser o braço direito, para o ajudar, alguns serviços que ele não podia fazer eu fazia… Depois do Nuno sair veio o maestro João Raquel e continuei a ser contra-maestro. Fiquei, também, encarregue de alguns setores da Escola de Música”. Como a direção estava satisfeita com o seu trabalho, com a saída do maestro, a direção decidiu arriscar. Segundo João Guerra, “é completamente diferente ser eu o maestro daquela casa, a nível de custos, do que, se calhar, um maestro muito conceituado. E acho que jogou um bocado por aí, mas é claro que acho que a razão principal foi mesmo o carinho que tinham por mim”.
Maestro da SFIP desde fevereiro de 2013, João Guerra ainda não fez qualquer curso de direção enquanto aluno, apesar de já ter participado em alguns como executante, aproveitando para absorver o máximo de conhecimento possível. No entanto, esta é uma ideia que não está posta de parte, já que “é claro que convém sempre nós, no nosso curriculum, termos os diplomas, os certificados e isso tudo, para quem não nos conhece”.
Eu não sou
Rancoroso, maldisposto, apressado, arrumado (mas a nível profissional sou).
Atualmente, a banda da SFIP aposta num reportório menos tradicional. É o ‘dedinho’ de João Guerra a funcionar, mas sempre ouvindo os músicos. “No geral, eu tenho a certeza que eles todos gostam do reportório, porque eles veem que é algo diferente, mas a minha ideia é sempre, de concerto para concerto, tocar peças novas. É claro que temos de repetir uma ou outra, mas tentamos sempre dar o nosso toque”.
“A minha ideia é fazer um pouco de fusão, a nível da cultura musical, não ser muito aquele reportório tradicional de filarmónica”, acrescenta. E é por isso que “daqui para a frente é que vou tentar mesmo fazer algo muito diferente, mas isso é uma surpresa que eu não queria divulgar. Eu já estou a trabalhar nela, mas a banda ainda não está. Mas vamos ter novidades em breve”.
Eu não gosto
Hospitais, de pessoas cínicas, de passar muito tempo em casa, de estar muito tempo no mesmo sítio, de esperar muito e que esperem por mim.
Mas o dia-a-dia deste jovem maestro não se fica por aqui. Faz parte da organização do Bazinga, que é “uma festa que fazemos anualmente, mas que eu até queria fazer mais que uma por ano, porque a Sociedade precisa sempre de uma ajuda financeira”; toca nos Bizu Coolective desde 2011, e que vem sofrendo um processo de “evolução, transformação, que me agradou, porque agora estamos a fazer originais”; nos Besouros, que fazem parte da SFIP, e “é mais um ambiente de festa. Nós tocamos Anselmo Ralph e tocamos música de baile para agradar ao público no geral, porque nós sabemos que em ambientes de festa, esse tipo de reportório faz sentido”; e ainda nos Da Chick.
Eu não quero
Envelhecer sozinho, deixar de fazer aquilo que gosto, ir viver para fora, ter amizades falsas.
João Guerra define-se, essencialmente, “como músico, sempre. Eu não sou um artista, sou um músico, que é uma coisa diferente. Um artista é aquele que executa qualquer coisa feita por alguém. Vejo-me mais como músico, criador, que é aquilo que me cativa muito na música”.