Portugal nunca foi um País fácil. Basta lermos os livros de História para entendermos que paralelamente ao período dos Descobrimentos e do Império (1415-1974/75-1999/2001), a emigração sempre atravessou toda a nossa História. Nos finais do século XIX e inícios do XX emigrava-se em largas quantidades para o Brasil. No século XVI o Reino, com cerca de um milhão de habitantes, estava muito despovoado e muitos homens estavam espalhados por todo o Ultramar.
Este pequeno arrazoado serve apenas para dar a conhecer um grupo já expressivo de habitantes do concelho emigrados. Constituíram há pouco um grupo no Facebook, Cartaxo Online, estão nas sete partidas do mundo e servem-se desta ferramenta contemporânea para se colocarem em rede e em contacto. Em comum parecem ter a juventude (muitos deles têm menos de 35 anos), bastantes têm formação universitária, outros experiência laboral e um percurso escolar mais baixo. Parece que já ultrapassam o número de 200. Apanhados por esta crise, que se instalou há mais de uma década e que se agravou nos últimos cinco anos, crise internacional e nacional, estes jovens são “pró-activos” (palavra terrível e com uma conotação perversa) e tudo fazem para singrar na vida.
O concelho onde viviam não lhes oferece grandes oportunidades de emprego. Actualmente ou se é funcionário público e se trabalha para o Estado; ou se está ligado ao pequeno comércio local; ou se cria o próprio emprego. O tecido empresarial do Cartaxo é frágil.
A terra tornou-se maioritariamente numa cidade de serviços ou comércio. Parece que as grandes empresas ligadas ao vinho são actualmente apenas quatro em todo o Concelho. Nenhuma delas é histórica. É bom que entre sangue novo, com diferentes visões e capacidade de risco.
O Cartaxo, cidade média entre Santarém e Lisboa, gravita em torno das duas. Ocupa uma posição estratégica e tem algumas mais-valias que poderia aproveitar, mas ainda não conseguiu cabalmente tirar partido delas. No Cartaxo sempre houve tendência de se ir um pouco mais para Sul, para Lisboa, onde as oportunidades são mais abundantes. Estamos num impasse. O m2 em Lisboa mantém-se em dígitos bastante elevados, e por isso muitos cartaxenses fazem uma vida de pêndulo, de vai-e-vem, vindo apenas dormir ao Cartaxo, nos seus novos bairros limítrofes. Deixam o seu automóvel na Azambuja e embarcam no comboio regional que os leva até à estação da Expo ou de Santa Apolónia. Às sete da tarde fazem o percurso inverso.
Era urgente que o Cartaxo tivesse uma boa ligação ferroviária a Lisboa. Já não somos rurais, nem totalmente urbanos. Estamos num processo longo de transição. Pelo que vamos observando o que espera ao Cartaxo é que o concelho se torne em mais um subúrbio da capital. Pois que seja um subúrbio com qualidade de vida!
Emigrar hoje em dia, como todos sabem, nada tem a ver com as partidas dos anos 60. Não é apenas internacionalização, globalização e um maná de promessas. Muitos destes novos emigrantes não voltarão e já não têm o sonho de regressarem num espalhafatoso Mercedes ou de construírem uma vivenda desmesurada na aldeia donde partiram. As Raízes agora são muito mais mentais, e a exibição de riqueza muito menos importante. As mentalidades, nesse ponto, felizmente evoluíram.
O autor não adopta o acordo ortográfico.