O mês de maio foi o mês da espiga, da espera da bonança agarrada à esperança e sorte para o mês de maio de outra dimensão que corre na azáfama dos pais e filhos: exames da escola para quem tem filhos no quarta classe e no sexto ano. Distingo de propósito “classe” de “ano”, porque os primeiros quatro anos de escola são para a vida toda, com amigos inseparáveis que perduram na saudade e que se começam a separar logo na entrada do quinto ano.
Nunca pensei que uma prova de fogo de português e matemática da quarta classe fosse sinónimo de passar o exame da condução, com uma bateria de testes de preparação de 60 minutos cada um. Incutir pressão de exigência depois das cinco e meia ou seis da tarde a uma criança de 10 anos, com ameaças morais de não cumprimento do dever, como por exemplo “só vais para a rua depois de fazeres os trabalhos: primeiro os deveres, só depois a brincadeira”, é a mesma coisa que pedir a um adulto responsável com algumas dezenas de anos de vida sábia para fazer aquela coisa muito importante e imprescindível às seis da tarde para entregar a alguém no emprego, com muito amuo e rosnar imaginário de estrumpfe rezingão.
Ora, a criança não tem qualquer hipótese de defesa: tem de fazer e pronto, para cumprimento e satisfação de pais e professores. Depois, já depende da maneira de ser do estrumpfe, que pode ser mais ou menos rezingão de feitio.
Depois de tantas horas de preparação, chegou o dia do exame. Como é que correu, filho? Ah, correu bem. Fizeste a composição? Fiz tudo. Era…já não me lembro. E ainda bem que não se lembra. Mas eu não me esqueço do meu exame de quarta classe, com o inspetor na escola a fazer-me perguntas sobre os rios e capitais de distrito de Portugal, desde o Minho até ao Algarve, com a professora atrás do inspetor a esbracejar aos berros mudos para eu olhar para o mapa gigante que estava na parede. E eu acertei tudo, claro, era o estrumpfe esperto.