Por Hugo Vieira*
Decorreu a 25 de maio o primeiro concurso de Mirtilos da Tomataza para a atribuição do BlueCrownAward. Uma distinção por esta organização de produtores sediada no concelho do Cartaxo para a atribuição de um selo de qualidade aos melhores mirtilos dos seus associados.
E no seguimento deste concurso, o Folha Agrícola deste mês será sobre a cultura do mirtilo.
Não existe consenso sobre a origem concreta desta planta, divergindo desde o continente americano à ásia e europa. E foi nos últimos 80 anos que a cultura evoluiu e se produziram a grande maioria das variedades comerciais.
O mirtilo é um arbusto de sistema radicular superficial que atualmente está adaptado a uma enorme variedade de condições edafoclimáticos, que variam, por exemplo na temperatura, de valores de dormência entre 150 a 1000 horas de frio por ano. A planta é no entanto sensível a temperaturas superiores a 30ºC com elevada exposição solar e ausência de rega. Em média o mirtilo necessita de cerca de 35 litros de água por planta por semana. No entanto, deve ser verificada a humidade do solo, pois é extremamente sensível ao encharcamento. Solos com baixa capacidade de drenagem podem causar a total ausência de furtos e fraco desenvolvimento das plantas, mesmo com primaveras e verões secos.O mirtilo suporta também algum stress hídrico durante o seu ciclo, podendo ser aproveitado para avançar ligeiramente a maturação.

Tal como outras culturas, uma orientação ideal será linhas N/S. Deverá ser plantado em locais com ventos fracos e um pH do solo entre 4 a 5,5. O mirtilo é muitas das vezes plantado em substratos próprios de mistura de fibra de coco, casca de pinheiro e perlite. O distanciamento na linha costuma rondar 1 metro, sendo que na entrelinha varia muito em função do espaço disponível.
Em Portugal podemos assistir à produção de frutos praticamente desde março a novembro, consoante a zona do país e método de produção, sendo que a maioria ocorre no período de maio a setembro. As médias de produção podem chegar aos 3 kg/ planta, mas a colheita é realizada ao longo do tempo em que os frutos forem amadurecendo, com uma cadência de a cada 2 a 3 dias. É portanto uma cultura que necessita de muita mão de obra especialmente na colheita.
Existem variedades livres da cultura e variedades sujeitas a royalties na venda do produto, sendo essa uma escolha que cabe ao produtor profissional na plantação. Normalmente as variedades sujeitas a royalties têm contratos de fornecimento associados, enquanto que nas outras o produtor é livre de realizar a venda. No entanto, as primeiras também têm vantagens interessantes ao nível do tamanho e qualidade dos frutos.
Após a colheita o fruto é extremamente perecível, devendo ser conservado a uma temperatura próxima dos 0º com uma humidade relativa acima dos 90%.
Se tiver curiosidade sobre esta ou outras culturas, envie uma pergunta para o nosso jornal e tentaremos fazer um Folha Agrícola sobre o tema.
*Hugo Vieira é consultor agroalimentar. Artigo publicado na edição de junho do Jornal de Cá.