A dependência regional do Cartaxo

Renato Campos | Renato Campos

Sabemos que as terras têm uma “identidade” que as caracteriza e distingue. O Cartaxo não foge a esta regra. Em vários momentos, a vivência da nossa terra reflete-se na memória e nos afetos, que nos avivam recordações. Hoje o Cartaxo, tenta recuperar, vagarosa e penosamente, de uma crise que num tempo bem recente o afetou negativamente. Mas no entanto, é oportuno lembrar que o concelho, só por si, nunca possuiu recursos próprios que lhe permitisse crescer isoladamente de forma equilibrada e sustentada.
Com uma economia onde o sector agrícola foi perdendo peso, a indústria nunca passou de pontual e de crescimento instável. Assim, tem sido fundamentalmente o sector dos serviços, particularmente o comércio, o seu motor de desenvolvimento. Hoje, este tem sido a vítima mais afetada de uma política nacional de severa austeridade, onde o corte drástico do rendimento disponível das famílias, reduzindo o consumo das mesmas, conduzindo-o a uma situação de recessão. Nem mesmo o marketing forçado de “Cartaxo capital do vinho” conseguiu atenuar este processo. Hoje, ao contrário do que alguns pensam, a prioridade para os pequenos lojistas não residirá, quanto a nós, em onerosas linhas de crédito. Eles precisam isso sim, de muitos clientes e com maior poder de compra.
Mas, é evidente, que o Cartaxo não vive isolado, tipo “ilha”, nem é autossuficiente e, muito menos, condicionado pela concretização de problemáticos projetos megalómanos. O concelho encontra-se, inserido no distrito de Santarém e na região do Vale do Tejo, mais concretamente na sub-região da Lezíria do Tejo, conjuntamente com mais dez municípios vizinhos. Daí, a sua interdependência regional ser uma realidade.

A prioridade para os pequenos lojistas não residirá, em onerosas linhas de crédito. Eles precisam isso sim, de muitos clientes e com maior poder de compra.

Porém, no panorama regional as coisas também não parecem fáceis.
O Distrito de Santarém, acabou na prática. Com a abolição das províncias em 1958, o Ribatejo acabou, embora na prática e na sua identidade cultural, nunca deixasse de existir. Por sua vez, a recente partilha do Vale do Tejo por duas outras regiões, transitando o Médio Tejo (norte do distrito) para a Região Centro e os concelhos da Lezíria do Tejo para a Região Alentejo, colocou ponto final na unidade do território dificultando qualquer plano integrado para a Região. Até em matéria de Turismo, o território foi recentemente “esfrangalhado”. O Turismo do Ribatejo, onde pertence o Cartaxo, foi absorvido pela região de Turismo do Alentejo, com sede em… Portalegre (!).
No entanto, o “distrito de Santarém” ou a região ribatejana não deixou, mesmo assim, de continuar a constituir um território matriz, com história e origens muito antigas, onde a bacia do Tejo é o principal responsável pela sua diversidade produtiva, condicionando toda a sua economia. Por esta razão, torna-se inevitável que será em função da qualidade do modelo de desenvolvimento que se conseguir imprimir neste vasto território regional, que muito dependerá a recuperação da economia do concelho do Cartaxo.

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