É inegável que as assimetrias territoriais têm-se vindo a agravar, quer a nível nacional, regional ou mesmo local, criando problemas de desertificação ou outros de grande concentração populacional. Hoje, temos um país de “risco ao meio” de norte a sul, dividido entre uma estreita faixa litoral atrativa das populações e do investimento e um interior cada vez mais desertificado e empobrecido. Segundo o INE, a densidade em territórios predominantemente urbanos é 19 vezes superior à verificada nas áreas rurais. Se considerarmos que entre 2011 e 2016 apenas 34 municípios registaram crescimento populacional (Cartaxo não incluído), e que no mesmo período a grande maioria dos municípios registou um agravamento do índice de envelhecimento, sobretudo nos territórios rurais, então percebemos o grave problema da crescente desertificação de grande parte do território nacional.
Claro que para este contexto, muito contribuiu também, a recente destruição no interior, já de si envelhecido e carenciado, de muitos dos serviços de proximidade como correios, postos de saúde, serviços bancários, tribunais, postos da GNR, extinção de Freguesias, etc.. Esta situação é preocupante pois a desertificação do interior e o envelhecimento da população não auguram nada de bom. Em 2030, segundo o INE, a população portuguesa será nitidamente inferior aos 10 milhões e a tendência será para não ultrapassar os 7 milhões em 2080.
Sem pessoas, recursos e serviços, não há economia que possa emergir num deserto queimado. As duas vagas de incêndios devastadores que houve (500 ignições num só dia!), são em muito resultado do agravamento dessa desertificação. Os poucos residentes que ficaram, sentiram-se desprotegidos. Para além de eventual “mão criminosa”, o voluntariado generalizado, que caracteriza os bombeiros, nunca chegaria para a dimensão de tamanha calamidade.
Em suma, em resultado de tudo isto, o progressivo despovoamento, a desqualificação e isolamento do mundo rural, o aumento da população idosa, o desaparecimento do pequeno comércio, o declínio da população juvenil, a falta de emprego para os jovens que ainda por lá concluem o secundário, a quebra da cadeia geracional na transmissão de tradições e das formas de cultura popular, constituem fatores de empobrecimento e isolamento do mundo rural. O mesmo se passa numa escala menor dentro dos territórios concelhios, como o do Cartaxo, onde é predominante o despovoamento das povoações rurais. Sem pessoas, em idade ativa e jovens, e sem uma atenção redobrada para o revigoramento do mundo rural, as terras não crescem nem se desenvolvem com equilíbrio e com uma qualidade de vida digna que abranja toda a população, seja ela rural ou urbana.
Artigo publicado na edição de dezembro do Jornal de Cá.