Opinião de Ricardo Magalhães
A segunda vaga chegou… e chegou em força. Um pouco por toda a Europa multiplicam-se os casos de Covid-19. É só observar as curvas com esses números para percebermos a severidade das suas evoluções (muitas delas exponenciais) e dos números (absolutos e per capita).
Os governos europeus têm procurado responder a esta situação com medidas de controlo à propagação do vírus. Muitas delas já não são novas, mas há mais de 6 meses que não eram aplicadas. França e Bélgica por exemplo entraram em novo confinamento e certamente outros lhes seguirão.
Portugal não tem sido exceção e se é verdade que, para todos os efeitos, passámos de fininho pela primeira vaga (mérito do esforço de todos e das medidas preventivas tomadas na altura), também é verdade que desta vez é impossível negar que a transmissão do vírus está fora de controlo.
Diria, portanto, que, sem surpresa, o Governo endureceu as medidas de controlo à pandemia, sendo a mais polémica de todas a obrigação do uso de máscara na rua. No entanto, pelas redes sociais e não só, começaram a levantar-se algumas vozes de descontentamento, acusando esta medida de ser própria de um regime ditatorial. Sobre isto, há muito por onde pegar, mas irei cingir-me a duas ou três ideias.
Vamos lá ver, a liberdade, que tanto prezamos e valorizamos, e a existência de leis não são, de forma alguma, realidades antagónicas. Aliás, numa sociedade sem lei reina a anarquia, essa sim arqui-vilã da salvaguarda das liberdades individuais. Ou seja, numa sociedade é necessário um conjunto de leis que a mantenham coesa e estável e a criação dessas leis, ou de novas leis, não fazem do Estado um Estado autoritário.
Por exemplo, é proibido andar de roupa interior na rua. Trata-se como é óbvio de uma restrição à liberdade individual, que é imposta com a justificação de que se trata de um atentado ao pudor. Não vejo ninguém a outorgar laivos ditatoriais ao Estado por isso.
Ora bem, a obrigação de utilização de máscara pretende combater a proliferação do vírus, evitando assim infeções e mortes desnecessárias. Mais do que desnecessárias, são vidas que são perdidas e que devem ser defendidas a todo o custo.
Concluo daqui que há quem pretenda viver numa sociedade em que a inibição do pudor é mais relevante que a defesa e proteção da vida humana. Ironia das ironias, mete um bocadinho de pudor tanta falta de noção.
*Artigo publicado na edição de novembro do Jornal de Cá.