A Escola Primária do Centro

Memórias do Cartaxo, por Telmo Monteiro

Fundamentais para o desenvolvimento de qualquer localidade, as escolas primárias são, pela sua natureza, um marco na vida de todos os cidadãos. É o primeiro passo na vida ativa e para sempre ficam as memórias felizes dos professores, dos colegas e do local.

No Cartaxo, uma escola teve uma importância significativa no desenvolvimento da vila e do concelho, tendo permitido dar uma maior resposta às necessidades da população e à preocupação em educar todas as crianças sem exceção, a combater o analfabetismo, e em criar cidadãos conhecedores dos seus direitos e deveres.

O antigo edifício da Câmara Municipal do Cartaxo, inaugurado no final da década de 1860 na recém batizada “Praça 15 de Dezembro”, albergava, entre outras repartições, uma escola primária. Numa vila predominantemente dedicada à agricultura, o surgimento de um novo espaço escolar permitiu um incremento da aposta na educação das novas gerações, o que sem dúvida influenciou o grande desenvolvimento económico e social que a vila do Cartaxo verificou entre os finais do século XIX e a primeira metade do século XX.

Neste ponto é justo mencionar os nomes do Dr. Manuel Gomes da Silva, médico e Presidente da Câmara Municipal do Cartaxo na década de 1870, e que terá sido o maior impulsionador à época da educação no concelho, envidando esforços para tornar o ensino obrigatório, e também o do professor Maximino Fernandes Cid, vulgo “Mestre Cid”, que marcou indelevelmente a educação na vila e nas gerações de cartaxeiros que tiveram o privilégio de serem seus instruendos, nas décadas finais do século XIX e iniciais do século XX.

Com o aumento da população, as salas de aula existentes no edifício da câmara, naturalmente, tornaram-se demasiado pequenas para dar resposta às necessidades, pelo que no início do século XX se decidiu construir um novo edifício escolar na então denominada zona do “Valverde”. Não será alheio a esta decisão, também o facto de no virar do século, o republicanismo ganhar força em todo o país sendo a educação da população uma das suas maiores reivindicações.

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Na época, estavam em voga os edifícios escolares projetados pelo arquiteto portuense Adães Bermudes (1864-1948), que havia vencido, em 1898, um concurso público com duas propostas de edifícios escolares, os quais dariam origem à construção de cerca de 300 escolas, entre 1902 e 1912, em todo o país. Foi neste âmbito que foi construída a Escola Primária nº 1 do Cartaxo popularmente conhecida por “Escola do Centro”, inaugurada por volta de 1906.

Graças à existência de um Escudo Comemorativo, exibido, juntamente com outros, durante as Festas do Trabalho no início do Século XX, destinados a homenagear pessoas e marcos históricos do Cartaxo, ficamos a saber os nomes dos homens que constituíram uma comissão destinada a construir na vila um edifício escolar: Dr. Alberto Lopes Baptista, Abílio D’Albergaria Guerra, António Baptista Henriques, António Duarte D’Oliveira, António da Silva Mesquita, Francisco José Pereira, João Ribeiro da Costa e Mário Vaz Gomes, nomes ligados ao republicanismo no Cartaxo.

Posteriormente também esta escola, na sua dimensão inicial, se terá tornado demasiado pequena para a crescente população infantil existente na vila, pelo que se estudou, na década de 1920, a construção de novas salas de aula, como se pode verificar pelas plantas arquitetónicas que publicamos.

A intenção seria a de quase duplicar o número de salas, fechando o pátio da escola no centro das mesmas.

Outro projeto foi o de construir uma escola ao lado, aproveitando a recente expropriação de terrenos na zona e a abertura da Av. João de Deus.

Estes projetos como sabemos não se vieram a concretizar, tendo a solução passado por manter em simultâneo as aulas no edifício da Câmara Municipal e posteriormente a construção das escolas primárias do “Norte” e do “Sul”.

No final da década de 1980 a escola sofreu obras de restauro e melhoramentos, e pouco mais de 100 anos após a sua inauguração, este lindo edifício deixou de funcionar como escola primária, sendo substituído pela moderna “Escola Básica Marcelino Mesquita”.

Nos últimos anos o edifício manteve-se em atividade, albergando as sedes de diversas associações, sendo de assinalar o triste roubo dos sinos que durante tantos anos davam ao edifício estilo “Adães Bermudes” um toque especial.

Embora tenha deixado de funcionar como escola primária, é sem dúvida um dos marcos arquitetónicos do concelho do Cartaxo e um dos locais mais acarinhados pelos cartaxeiros no geral.

 


Plantas do espólio de Júlio Augusto Marques, cedidas por Maria Eulália Marques

 

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