Jano (Janus em latim) foi o deus romano das mudanças e das tradições. Representado por uma face dupla, simbolizando o passado e o futuro, Jano é o deus dos inícios, das decisões e das escolhas. Assim somos nós – herança do passado e desejo de futuro. E o presente? Bem, o presente é feito de escolhas e de decisões, condicionadas pelo nosso passado, norteadas pelo futuro que desejamos.
Falamos muito em democratização do ensino, mas temos dificuldade em concretizar, com a nossa história, o que isto representa. Pois bem: até ao 25 de Abril de 1974 o Cartaxo era servido pelo Externato Marcelino Mesquita que, depois do ensino primário, ensinava os filhos dos mais abastados e dos remediados. Ao liceu nem todos chegavam pois implicava deslocarem-se para Santarém, o que saía caro e, na altura, dos bolsos das famílias.
Foi no ano de 1975/76 que, graças aos esforços do poder local e da boa vontade dos beneméritos, foi possível pôr a funcionar o ensino preparatório em instalações adaptadas da quinta doada aos cartaxeiros por António Mesquita, lavrador abastado, irmão de Marcelino Mesquita, o médico, dramaturgo e deputado republicano. Nesse ano, passou a ministrar-se na Escola Preparatória José Tagarro o 5º ano experimental do ciclo preparatório, na sequência da portaria de criação destas escolas, em 1970, da autoria de Veiga Simão, então Ministro da Educação.
Meia década depois, graças aos esforços da autarquia e dos apoios que recolheu junto da Fundação Luso-Americana, era inaugurada a Escola Secundária do Cartaxo, a 17 de Novembro de 1980. A partir daí o Ministério da Educação passou a ter mais uma escola para administrar e os jovens cartaxeiros passaram a poder realizar os seus estudos secundários na sua terra. Com este breve apontamento, está, então, demonstrada a estreita relação entre o 25 de Abril e o papel do poder local no desenvolvimento e na democratização da educação.
Uma escola que promova a excelência sem esquecer a cidadania, que aspire a melhores resultados, sem esquecer os melhores meios para lá chegar.
Mais exemplos haverá por este país fora, mas eis o que nos importa: a nossa terra.
A nossa Escola Secundária não pode, fruto do seu passado, comparar-se com os antigos liceus nacionais sedeados nas sedes distritais. Não pode, nem precisa! Todavia, isso não lhe confere um estatuto de menoridade. Esta importante instituição tem cumprido o seu papel, formando milhares de jovens que, ao longo dos tempos, têm exercido as mais diversas profissões, alguns com belíssimos currículos. Mas falta sempre mais. Falta cumprir-se o futuro. E o futuro que desejamos é o de uma escola que promova a excelência sem esquecer a cidadania, que aspire a melhores resultados, sem esquecer os melhores meios para lá chegar, que cultive uma identidade coletiva escutando todos. Estamos no bom caminho, mas queremos mais, todos e para todos. Ou não será assim?