É inquestionável que nos últimos 40 anos as autarquias locais alteraram profundamente a face do país, investindo os seus recursos financeiros, não só, nas áreas em que a lei lhes reserva competências, como também, face à necessidade urgente de resolução de graves problemas em domínios da competência da administração central. Por exemplo, os inúmeros postos médicos construídos, as primeiras infraestruturas básicas em muitos locais, as primeiras escolas (sobretudo do 2º e 3ºciclos), infantários, creches, centros de dia, bibliotecas, museus, centros culturais, etc.. Em alguns casos investiu-se o que se tinha e o que não se tinha! Mas as populações pediam, a Europa ajudava, a Banca emprestava e os empreiteiros consentiam. Na generalidade eram infraestruturas e equipamentos inadiáveis para o bem estar das populações e para o desenvolvimento das terras. No balanço global, o poder local contribuiu para uma nova e moderna imagem por oposição a um país outrora estagnado, acantonado e esquecido no extremo da Europa.
Apesar de todo o enorme esforço dos municípios neste desenvolvimento sabe-se, todavia, que o actual processo de evolução da economia de mercado tem vindo a acentuar as assimetrias entre os territórios mais prósperos e os mais deprimidos, levando a uma acentuada e crescente clivagem entre regiões que prosperam e outras que empobrecem. Como tal, são as regiões mais ricas que atraem o investimento privado e por arrastamento muito do investimento público, contribuindo para o progressivo despovoamento do mundo rural e para o isolamento e envelhecimento das suas populações. Infelizmente estas assimetrias têm ocorrido em todos os níveis territoriais e um país, ou um município, que se esquece de metade de si próprio, nunca poderá ter um desenvolvimento harmonioso e territorialmente equilibrado.
De novo em Outubro, vão-se realizar eleições para as autarquias locais. As diversas forças políticas vão apresentar as suas propostas eleitorais, entregando ao eleitor a decisão da sua escolha no exercício do direito de cidadania. Neste contexto e como cidadão, não posso ficar indiferente ao que acontece no município do Cartaxo, cujas dificuldades financeiras estruturais não são fáceis de resolver no curto prazo. No entanto, penso que se não for parado o caminho prosseguido nos últimos quatro anos pelo actual executivo presidido por Pedro Ribeiro, estancando e ultrapassando de forma responsável o legado do terrível estrangulamento financeiro do município, tenho a esperança que o concelho do Cartaxo encontrará o seu próprio ritmo de desenvolvimento de uma forma harmoniosa, sustentável e territorialmente equilibrada.