A liberdade

Opinião de João Fróis

Se há tema que desde os primórdios está intrinsecamente ligado à condição humana, na longa caminhada do avanço civilizacional, a liberdade está seguramente na frente dos demais valores da vida em sociedade.

A revolução francesa, marco determinante na história europeia e mundial contra a opressão, resume singularmente essa importância no seu slogan “Liberté, égalité et fraternité”. A liberdade de decidir e escolher, defendida pelos liberais democratas em oposição ao poder hegemónico do rei. Vivemos atualmente uma nova guerra na Europa, protagonizada por um ditador que decidiu ocupar um país independente, deixando para trás todas as convenções internacionais de proteção da integridade territorial e do direito á auto-determinação dos povos e nações.

Por detrás de todas as guerras estão desígnios pessoais e a não aceitação dos direitos que assistem a outros, a começar pela sua liberdade em ser quem é e como bem entende. No caso, Vladimir Putin nunca aceitou a desintegração da URSS e a deriva ideológica da perestroika, estando agora a reclamar aquilo que sente ser seu por direito. No limite a guerra em curso começou lentamente com a queda da primeira pedra do muro de Berlim. Tudo o que daí adveio foram “atentados” contra a mãe Rússia, o velho império czarista e que os avanços da NATO até às suas fronteiras corporizaram como ameaças latentes à sua hegemonia. E assim, todos os dias assistimos a bombardeamentos e destruição massiva, a mortes inocentes e a deslocações de refugiados, num conflito que pela primeira vez na história nos põe do lado do agredido. Zelensky figura já como o grande herói mundial ao assumir a luta e defesa da Ucrânia junto de todas as instâncias mundiais e a ter palco nos grandes ecrãs onde faz passar a sua mensagem da defesa da liberdade e do quão fulcral é reunir todos os esforços para a defender da barbárie. A Ucrânia é assim o bastião da defesa de todos os valores humanistas e base das sociedades modernas e ficará certamente na história como o momento em que o mundo mudou e rejeitou o mal em toda a sua dimensão.

Por cá chegámos à contagem simbólica de vivermos há mais tempo em democracia do que em ditadura. Há aqui alguma imprecisão uma vez que só no 25 de Novembro de 1975 a liberdade foi definitivamente assegurada mas fica o marco de Abril de 1974 como a grande viragem e capitulação do estado novo. A democracia em que vivemos ainda padece de muito males e pode e deve melhorar na satisfação e defesa das liberdades, direitos e garantias que a constituição assume, mas ninguém dúvida que vive em liberdade e que esse é um bem supremo que tem de ser defendido com todas as nossas forças. Assim seja, aqui e no mundo e que a guerra termine e volte a paz.

*Artigo publicado na edição de abril do Jornal de Cá.

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