Por João Fróis
Quando falávamos de máscara antes desta crise pandémica, associávamos ao imaginário carnavalesco e ás suas fantasias festivas.
Agora é a imagem de proa da proteção individual face a uma ameaça que ainda não conhecemos a fundo, nem tão pouco dominamos
Mas se o seu uso é aconselhado por diversos especialistas mundiais em saúde pública, que dizer das decisões políticas ad-hoc por esse mundo fora?
Ainda a crise sanitária estava na China e víamos quase toda a população de máscara. Logo se disse que era cultural e um hábito naquelas paragens. Por cá a ignorância começava a traçar os destinos próximos do que estava para vir. E percebe-se hoje que não a divulgar e disponibilizar de forma massiva foi um erro enorme e que terá provocado um aumento exponencial dos casos na velha Europa, tendo provocado ou acelerado os fatores que levaram à morte de largos milhares de pessoas em Itália, Espanha e depois um pouco por todos os países onde foi chegando em força.
O exemplo de Hong-Kong é incontornável. Habituados a vários surtos que assolam a região, desde o SARS1 ao H1N1, cedo perceberam que o uso de uma máscara de proteção individual era mais que necessário para a própria saúde, uma questão de respeito pelo próximo, evitando a disseminação de ameaças que tendem a tornar-se imparáveis, causando tragédias humanas de vulto. Este pequeno território, outrora sob administração da coroa inglesa, tem a maior concentração de seres humanos por metro quadrado do planeta. Ora esta proximidade tem tudo para ser uma bomba relógio em casos de surtos virais. A consciência do problema pela população leva a que todos sem exceção optem pelo uso voluntário de um dispositivo simples e que faz a diferença, entre surtos controlados e epidemias drásticas e mortíferas.
E o que aconteceu no ocidente?
O caos. Primeiro porque ninguém conseguiu entender o que aí vinha e antes disso houve mesmo quem pensasse que não chegaria cá. Pura ignorância e arrogante sobranceria de políticos e decisores que falharam em toda a linha na gestão da informação científica e dos sinais, óbvios, do perigo que esta pandemia trazia.
As máscaras foram então olimpicamente ignoradas, não sendo tidas como essenciais. Um erro maior que uma catedral e que rapidamente foi deitado por terra face à avalanche de contagiados que entupiram os hospitais e esgotaram dramaticamente a capacidade de resposta, com as consequências lamentáveis que sabemos.
O uso da máscara é determinante para manter os níveis de contágio controlados. Sendo um vírus de transmissão por partículas expelidas pela respiração, manter as vias aéreas tapadas é obrigatório. De modo a que não contagiemos outros e não sejamos contagiados por potenciais assintomáticos. A questão do toque só acontece porque as partículas caem sobre objetos onde vimos a tocar, levando depois as mãos a infetar as nossas mucosas por contato direto. Mas no início estão sempre as vias respiratórias. Se as mantivermos isoladas, teremos com certeza muito menos probabilidades de contágio.
Parece simples de entender. Mas assistimos a uma profusão de informação e contra-informação avassaladora e que causou a confusão entre as populações e também o medo face à escassa oferta de máscaras no mercado. A corrida ás mesmas mostrou a falta de preparação dos canais de distribuição e gerou uma especulação lamentável. Quando não se trabalha em prever cenários prováveis e não se tomam as decisões certas em em tempo útil, vem a gerar-se o caos. Foi o que sucedeu um pouco por todo o mundo e com particular enfâse na velha Europa.
Eis-nos agora a tomar decisões sobre o regresso à atividade económica e social. Que será necessariamente faseada e medida a todo o tempo de modo a prevenir novos picos da infeção. O que se vê nas ruas são cada vez mais pessoas e grande parte delas sem qualquer máscara de proteção. Se não fôr decidida a obrigatoriedade do seu uso e disponibilizadas rapidamente a toda a população, de modo célere e gratuito, estão criadas as condições para um aumento exponencial dos casos positivos, com consequências dificilmente mensuráveis. Parece que andam a brincar com o fogo.
Vemos decisões parciais, erráticas e pouco pensadas em todas as suas implicações sociais. A pressão económica é enorme mas não pode levar a que rapidamente se deitem por terra os benefícios do confinamento que milhões de portugueses aceitaram sem resistência, mostrando um apreciável respeito pelas vidas que estavam a proteger.
Usar máscara é um ato de cidadania e respeito pela vida humana.
Que cada um saiba entender isto e faça do seu uso a maior mensagem social desta pandemia.
Boa saúde a todos. Bem hajam!