A morte do passado

Opinião de João Fróis

Por ocasião dos 75 anos da libertação do maior campo de extermínio de seres humanos, na 2ª guerra mundial, Auschwitz, assistimos a um lamentável e patético jogo de interesses políticos e diplomáticos entre Rússia, Polónia e Israel, branqueando a história. Os nacionalismos de hoje tentam desvalorizar o pesadelo de milhões e as razões que originaram o Holocausto, tentando impor uma lógica de pragmatismo político que responda aos desafios económicos, sociais e demográficos que vão assolando o mundo atual.

A história luta por continuar a ser o que sempre foi, um retrato fiel do passado, sem cedências a interesses e agendas políticas. Mas o que vemos são negações constantes de um Holocausto que ninguém quer verdadeiramente assumir.

E os dramas dos refugiados que vão fazendo do mediterrâneo o cemitério da vergonha e falência civilizacionais, ficam uma vez mais nas mesmas sombras obscuras a que o passado vai sendo vetado. Adiam-se decisões, empurram-se argumentos entre blocos e as mortes vão-se sucedendo a um ritmo ignóbil. Os silêncios matam tanto ou mais que balas mas não se veem, passam ao lado da torrente do escândalo.

E vamos percebendo que ninguém aprendeu nada com a história e os seus incontornáveis ensinamentos.

A xenofobia e anti-semitismo de outrora continuam bem vivos neste mundo em colapso iminente. A escala é diferente mas os episódios são hoje em maior numero. Basta atentar na violência nas escolas, nos serviços públicos, entre portas. A intolerância cresce num absurdo sem quartel mas nada parece querer ou poder pará-la. A génese de todas as guerras começou sempre assim, pela não consideração do outro e pela imposição da força. Não querer ver e aceitar esta verdade absoluta pode levar-nos ao que muitos já assumem, a terceira guerra mundial. Como em quase tudo nos dias de hoje, em plataformas múltiplas, seja na odiosa internet, esgoto onde cai o pior da sociedade, seja nas ruas, escolas, estádios desportivos, hospitais e serviços sociais, e numa escala maior, entre países, raças e credos. A violência está nas ruas e confunde-se com os protestos legítimos que muitas vezes a originam.

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A sociedade está cega, apesar de tantos exemplos e evidências históricas de onde podíamos e devíamos retirar as melhores e maiores lições. Infelizmente parece que querem “matar” a história. E com ela, quem sabe, a própria civilização como a conhecemos…

*Artigo publicado na edição de fevereiro do Jornal de Cá.

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