Estamos a atravessar uma fase diferente nesta nova normalidade: o desconfinamento. Aos poucos vamos enfrentando medos e ansiedades e aceitando que o que era tomado por garantido teve de ser repensado e adaptado, é a chamada nova normalidade. O período de férias chegou, para grande parte da população, e é tempo para descontrair, embora fora de casa nunca poderá ser totalmente, devido à pandemia.
No entanto, apesar do ambiente de férias, há assuntos que parecem estar muito presentes (como que preocupações que estão em stand by, mas que frequentemente voltam) entre os pais, as crianças e jovens: o voltar à escola no início do ano letivo e o uso de máscaras pelas crianças e jovens, quer nas escolas, quer nos outros locais públicos.
Durante o período de confinamento, as famílias sentiam-se protegidas no refúgio das suas casas, dando algum sentimento de controlo, embora pouco. Atualmente, ao sairmos para a rua gradualmente, surgem sentimentos de ainda maior perda do controlo, o medo de uma segunda vaga, as incertezas económicas… Há muitas pessoas, que incluem adultos, jovens e crianças, que estão a ter dificuldades em desconfinar. Ficou marcado na nossa mente, de forma consciente ou inconsciente, que é muito importante evitar o contacto social e estar com os outros passou de ser uma coisa natural a ser uma situação perigosa. O uso das máscaras e de desinfetantes dão alguma sensação de segurança, mas quando as crianças e jovens têm de se afastar das pessoas e locais que categorizaram como seguros, é muito frequente que os medos e ansiedades surjam, quer neles, quer nos pais.
As dúvidas são muitas e é difícil obter respostas para elas…
Deverão as crianças e jovens utilizar sempre máscara? Devem manter sempre o distanciamento social com os colegas? Quais as repercussões psicológicas de tudo isso?
Como será quando as crianças e jovens forem para a escola? Terão de usar máscara durante todo o tempo de aulas presenciais? Ao terem aulas com colegas e professor numa sala (embora com menos alunos, pensamos todos, sem certezas de nada), como mantêm o distanciamento social? Não irão ter intervalos de convívio com os colegas? Tudo isso irá influenciar o gostar mais ou menos de ir à escola? E o desempenho académico será influenciado por todas estas mudanças?
Como tudo o que é relacionado com a Covid-19, não há certezas de nada e surgem opiniões de vários cientistas, alguns com perspetivas bastante contraditórias
Alguns cientistas defendem que o uso de máscara deve ser recomendado para todos, independentemente da idade. Outros defendem que o uso da máscara deve ser obrigatório somente a partir dos 10 anos. Há também quem preconize que às crianças e jovens até aos 13 anos não deve ser recomendado o uso de máscara devido às repercussões psicológicas.
Todos têm em comum a recomendação de medidas de higiene e o afastamento físico. O distanciamento social é recomendado por todos bem como a lavagem e a desinfeção das mãos e a ventilação dos espaços.
Na prática, sabemos que o distanciamento físico entre crianças e jovens é quase impraticável e que o uso de máscaras, se não for realizado de forma correta, poderá ser mais perigoso do que não as usar. O que fazer?
Infelizmente, não existem respostas e soluções corretas para estas dúvidas. Parece-me realmente importante que se encontrem soluções que passem por ter em conta a proteção da saúde física, mas também da saúde mental, já que as repercussões a médio e longo prazo podem ser muitas, especialmente nas crianças e jovens.
Dependendo da idade e da personalidade de cada criança ou jovem, as orientações por parte dos adultos deverão ser adaptadas de acordo com uma prevenção e proteção relativa à Covid-19 e também relativamente à sua saúde mental. Por exemplo, no caso de crianças/ jovens em que o uso de máscara gera ansiedade e/ou dificuldades em respirar, talvez seja melhor que as orientações do adulto acerca da utilização de máscara por essa criança/jovem seja uma recomendação mas não uma obrigação, isto é, não necessita de usar sempre em público, só em determinadas situações e se se sentir minimamente confortável psicologicamente com isso.
Do ponto de vista psicológico, para que o medo da Covid-19 não seja bloqueador, é importante que as regras de proteção tenham alguma flexibilidade de acordo com as características de personalidade de cada pessoa para minimizar as possíveis marcas ou repercussões psicológicas.
Numa época de incertezas, tentarmos fazer o nosso melhor faz parte da nova normalidade.
Sónia Parente é psicóloga clínica