A pequenez

Opinião de João Fróis

Somos um país pequeno. Não tanto em área geográfica, onde há parceiros europeus que nos fazem corar, mas em capacidade de nos guiarmos a patamares que teimamos em não alcançar.

Vamos por partes.
Pequenos na atitude. Falamos muito mas nem sempre bem. Reclamamos mais ainda mas longe das instâncias certas. Assumimos o papel do coitadinho a quem tudo foi vedado. Choramos. Maldizemos. Invejamos. Raramente damos o corpo às balas e assumimos frontalmente as razões que arguimos meses a fio nas mesas dos cafés. Despejamos raiva nas estradas, que transformamos em arenas. Entramos tarde, queimamos energias no caos dos carros de que não prescindimos. Saímos mais tarde ainda. Entregamos os filhos a quem os melhor trate apesar de regiamente pagos por tal. Deitamo-nos mais tarde ainda. Dormimos mal e para um quinto da população, dormir, fica entregue a fármacos. Sobrevivemos mas mantemos a pose, quase aristocrática, de quem ou já foi ou está para ser, glorificado.

Pequenos no exemplo.
Criticamos a ineficácia sistemática dos serviços públicos. Queixas? Quase zero. Tudo se esfuma na bancada dos dias onde despejamos frustrações. Maldizemos o governo, as finanças, os hospitais, pela sua costumeira falácia, burocracia e espera infinita. Mas raramente fazemos um gesto voluntário, oferecemos tempo a quem dele carece como pão para a boca, paramos para repensar gestos, opiniões e prioridades. Preocupamo-nos com o aquecimento global mas não abdicamos de ir de automóvel ao café. Hipócritas é os que somos. O resto é vaidade e presunção.

Pequenos na união.
O recente exemplo do movimento dos coletes amarelos é transparente. A meia dúzia que deu rosto a razões que nem sempre percebiam, rapidamente foram gozados na praça pública e ostracizados nas famosas e sanguinárias redes sociais, a última fronteira da imensa cobardia lusitana. Aí encontramos “guerreiros” de espada em punho, prontos a queimar bruxas em outras tantas fogueiras justiceiras. Na rua é um deserto, de ideias e homens com H grande. E escuso-me a escrever homens e mulheres pois não embarco nestas cantilenas estapafúrdias do género. Para mim há o género humano. Onde há dois sexos e várias opções de escolha. Cada um que o faça livremente sem que isso seja notícia ou arma de arremesso. Preocupemo-nos com a solidariedade que escasseia. Com a compaixão, onde andas tu? Com o respeito, cada vez mais raro. Com a bondade e gentileza. Com o civismo. E sejam homens ou mulheres, velhos ou novos, gordos ou magros, a todos colhe por igual o dever ético de os defender, alimentar e por eles lutar, intransigentemente. Sob pena de a pequenez nos tolher e fazer definhar na humanidade e engrossar na barbárie.

Saibamos ser grandes. Ousados. Corajosos. E que lutemos por melhorar o que está menos bem, não criticando, antes dando o empenho, esforço e exemplo abnegado em prol do bem público. Sem isto a nossa pequenez costumeira será a servil de outros, grandes mas não necessariamente virtuosos.

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Outrora fomos grandes, saindo. Hoje somos pequenos, ficando.

*Artigo publicado na edição de janeiro do Jornal de Cá.

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