A propósito de copos e mulheres…

Opinião de João Fróis

O episódio protagonizado pelo presidente do Eurogrupo tem tanto de infeliz, dada a sua posição política, como de revelador dos imensos preconceitos sociais que dividem países e a sociedade em geral.

A verdade é que todos temos preconceitos. Ideológicos, culturais, de género, de raça, de religião, política e clube, entre tantos outros mais conceptuais ou dissimulados. Depois o que se vê são diferentes expressões sociais sobre os mesmos e, mais ou menos, coragem para os assumir. De frente. E sujeitar-se à crítica, algo que nos dias de hoje se tornou feroz. Com as redes sociais e o seu confortável anonimato ou distanciamento, os apelidados hatters proliferam que nem uma gangrena virtualmente corrosiva e venenosa que ataca tudo e todos os que “se põem a jeito”…

Vivemos tempos estranhos e que para os menos novos e que já viveram eras de maior equilíbrio social, causam perplexidade face a manifestações tão grosseiras e radicais, de intolerância.

Voltando a Dijsselbloem, este cidadão do país das túlipas terá deixado escapar algo que sempre pensou e que entre os seus amigos, e uns tantos copos, é conversa habitual. Vamos ficcionar uma dessas animadas tertúlias. “olha lá ó Jeroen e que tal são os teus colegas mediterrânicos? Aquilo é uma malta que só quer é festa, deitar tarde, comer bem e beber melhor, uma alegria!! Pois é o que parece mas o problema é que não se sabem gerir e estão sempre com as contas no vermelho! E depois lá estamos nós a ter de os ajudar. E Gregos então nem se fala… É uma alegria e depois com aquele sol e calor nem lhes apetece trabalhar… Olha acabaram-se as Heineken! Quem vai ao bar buscar mais? Olha e traz uns space cakes que fumos não me apetece hoje!!!”

Esta ficção poderia ser na folgazona Munique, em preparação para a Oktoberfest, onde nos seus cerca de 14 dias se bebem largos milhares de litros de cerveja e as mulheres dão largas à alegria de viver, gastando tal como os homens em diversão. E não necessariamente uns com os outros!

Voltemos à narrativa.

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A verdade é que o preconceito entre países ricos, os do norte, e os mais pobres, do sul, existe há muito. A ideia europeia da união pressupunha uma lenta harmonização económica entre os blocos e uma co-participação entre países para o crescimento europeu face aos EUA e a uma emergente e poderosa China. Mas as raízes seculares estão lá e nesta amálgama de culturas antigas e tão diversas, o conhecimento do outro continua a ser fraco dando espaço a mitos, boatos e ideias pré-concebidas que aligeiram e aliviam as dores próprias. É sempre mais fácil falar do outro e o mal está invariavelmente nesse outro. Por não ser como nós, em primeira instância. E sendo diferente tem de, necessariamente, ser… pior!! Este pensamento redutor esteve na base de todas as tensões sociais que foram forjadas neste caldeirão de raças e povos tão distantes entre si. E que após séculos de lutas souberam chegar a um acordo de interesses mútuos e que tem vindo a incluir cada vez mais países no seu seio. Mas com os desafios a que vamos assistindo nesta complexa condução do projeto europeu é natural que haja quem se deixe levar pelas emoções e diga em público o que pensa em privado. Wolfgang Schauble tem sido um dos cabeças de cartaz nestas atoardas ofensivas para com os países do sul europeu e nunca se mostrou particularmente preocupado em medir consequências. Sendo alemão e ministro das finanças esse estatuto e poder dão-lhe essa “autoridade moral” de julgar quem bem entende e não duvido que se pudesse, o faria, exemplarmente. A lembrar outros que com essa acutilância ideológica incendiaram o velho continente há 78 anos atrás…

O problema não está nos copos e nas bebidas que transportam, pois os franceses continuam a ser quem mais bebe vinho per capita e os alemães e belgas quem lidera o consumo de cerveja. Não excluindo os ingleses que agora, em modo Brexit, continuam alegremente a rir desta união de pint na mão nos ruidosos pubs que tanto ostentam. E na Polónia afogam-se as mágoas com vodkas que deixariam os sulistas folgazões knockout. E quanto às mulheres parece que foram deixadas de fora da equação, sendo reduzidas a escolhas do dinheiro, mas aí Jeroen sabe do que fala, pois o Red light district, em Amesterdão, é bem disso exemplo com as prostitutas expostas em montras a fazer marketing direto ao seu produto! Não me parece que a prostituição seja o principal destinatário do dinheiro dos portugueses, espanhóis e gregos e nem que sejam as bebidas que os deixem na penúria. Vejo os agiotas das instituições financeiras a “emprestar” dinheiro a quem é “tido” como em situação crítica, pelos mesmos que a compõem e alimentam, criando uma teia asfixiante de juros escandalosos que engordam offshores com nascente na Holanda e mantêm os países do sul bem amarrados a terem de pagar os copos e as mulheres de quem os explora!!

Deixem-nos em paz para podermos beber os copos que queremos e a gastar o nosso dinheiro com as mulheres e homens que bem entendemos. E ganhem juízo, falem menos e façam mais por esta Europa, sedenta de liderança, sabedoria e visão de futuro. Jeroen, bebe mais um copo que isso passa!!

Isuvol
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