A quarentena

Opinião de João Fróis

E num ápice, Portugal entrou na rota da Covid19.

O que durante semanas parecia confinado à distante China, rapidamente se espalhou pelo globo e chegou à Europa, com impacto evidente na Lombardia. Percebeu-se então que seria uma questão de tempo até alastrar aos demais parceiros europeus e num ápice Portugal entrou na rota viral.

O norte do país está agora em choque e a sucessão de notícias é avassaladora. Felgueiras em quarentena, Lousada a caminho, escolas fechadas, viagens canceladas, o hospital de São João como centro de despiste e tratamento dos infetados.

Os próximos dias adivinham-se difíceis.

Irão previsivelmente surgir mais casos e os efeitos de escala são tremendos. Basta surgir um caso numa escola e a mesma é fechada. Mas e todos os alunos que a frequentam têm de ficar em quarentena? E os funcionários e professores?

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Porque se aplicarmos esta ordem geométrica de escala então teremos milhares de pessoas sob suspeita de infeção e logo de sujeição à tão propalada quarentena. Basta multiplicar por cada aluno todos os membros da sua família e depois por cada um destes todos os seus contactos, entre colegas, amigos, vizinhos, numa imparável rede de potenciais portadores deste vírus.

Atentemos às decisões que as autoridades irão tomar nos próximos dias perante o previsível aumento de casos. Uma coisa é certa, não há preparação de fundo para lidar com uma ameaça com estas características.

Ao mesmo tempo que as pessoas andam naturalmente preocupadas com o alastrar do vírus, as notícias sobre o impacto na economia vão causando igual preocupação.

O BCE vai injectar cerca de 12 mil milhões de euros na economia europeia, de modo a colmatar os efeitos nefastos que estão à vista desarmada de todos. Cidades desertas, milhares de voos cancelados, exportações em queda face ao abrandamento da procura de uma China a braços com a contenção do fenómeno. No império do meio já se estima numa queda de mais de 15% nos indicadores económicos de crescimento. Esta quebra já se ilustra com as famosas imagens da NASA em que o norte industrial chinês deixa de ter as habituais nuvens de poluição neste período viral.

Tudo isto dá muito que pensar.

A fragilidade da economia mundial é evidente. O consumo é o motor que alimenta todos os mercados e qualquer evento de escala causa perturbação nos equilíbrios dinâmicos da oferta e da procura. Se as ameaças militares entre blocos causavam problemas, que dizer agora dos impactos profundos desta COVID19?

A maior indústria mundial, o turismo, é a primeira vítima deste surto mundial. A quebra na procura é tremenda mas não só para os países mais afetados, notando-se já quebras enormes nas receitas das companhias aéreas, com o consequente cancelamento de milhares de voos. A jusante, hotéis vazios, restaurantes sem clientes, e toda uma rede de serviços e prestadores a ficarem sem hipóteses de sobreviver por muito mais tempo.

Ainda veremos as reais consequências deste surto imparável.

Mas há conclusões que se podem e devem já tirar. O mundo não está preparado para lidar com este tipo de ameaças. E, ironicamente, quando tudo e todos estavam a olhar para as alterações climáticas, para os mega eventos climáticos e os seus impactos no globo e na economia, eis que é um surto viral que põe o mundo em quarentena e à beira do caos.

Vamos ver que ilações os dirigentes mundiais dos vários setores irão retirar de todo este rol de eventos e problemas sociais e económicos.

Até lá vamos todos andar a espreitar por cima do ombro e a esperar que não nos calhe sermos os próximos alvos deste vírus que mostra ter vindo para, senão ficar, perturbar e muito o modo de vida a que nos habituámos a ter, sem fronteiras e limites.

Boa sorte a todos e muita saúde.

Isuvol
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