Opinião de Ricardo Magalhães
Já diz o povo: em terra de cegos, quem tem olho é rei. Pois a mim apetece-me dizer: em terra de abstencionistas, quem vota é que manda. Esta é, porventura, a mais desconcertante verdade que aqui te direi, e que destrói por completo aquela ideia de não votar como forma de protesto. E digo-te exatamente o mesmo sobre os votos brancos e nulos. Segundo a Comissão Nacional de Eleições, “os votos em branco, bem como os votos nulos, não sendo votos validamente expressos, não têm influência no apuramento do número de votos obtidos por cada candidatura e na sua conversão em mandatos. Ainda que o número de votos em branco ou nulos seja maioritário, a eleição é válida e os mandatos apurados tendo em conta os votos validamente expressos nas candidaturas.” Portanto, todas aquelas balelas que correm por aí de não votar ou votar em branco sabes o que é que valem? Valem zero! Fazem apenas com que cada um dos votos válidos seja mais importante em percentagem. Neste momento, o voto de cada pessoa que vota já vale por dois. Não votaste nas últimas eleições? Então aguenta-te aí enquanto aqueles que votaram se riem de ti na tua cara, pois, no fundo, eles votaram por eles e por ti, provavelmente num candidato que tu, nem banhado a ouro, querias ver na Assembleia da República. Que grande forma de protesto, dar-lhes o teu boletim para a mão!
Depois há aquela ideia: “Eu não voto nesses ladrões! São todos uns corruptos!” Então, vamos fazer o seguinte, mesmo que por absurdo. Suponhamos que os todos políticos que até ao dia de hoje puseram os pés na Assembleia da República são uns corruptos da pior espécie. Pois bem, como está, então, a correr a estratégia de quem não vota em tamanhos mafiosos? Ora, PS, PSD, CDS e PCP estiveram na Assembleia da República em todas as legislaturas, assim como o Bloco desde 1999. Durante muitos anos foram, inclusivamente, as únicas forças políticas representadas. Ou seja, a abstenção não é a solução, bem pelo contrário. A solução para essas pessoas passa por votar num dos restantes partidos que vão a votos. E sim, é um mito que “nenhum deles presta”. Nestas eleições tivemos um total de 21 partidos a votos e é preciso não ligar nenhuma ao que propõem para não lhes reconhecer, pelo menos a alguns, credibilidade e valor.
Para terminar, sim, o processo de voto deveria ser rápido e próximo da residência de cada cidadão. Infelizmente, nem sempre é assim. Mas não sejas maricas porque para votar tens que esperar duas horas na fila ou deslocar-te meia dúzia de quilómetros (bem menos do que aquilo que fazes num fim de semana normal). É que fica muito mal queixares-te disso quando há bem pouco tempo houve pessoas que morreram para que pudéssemos conquistar aquilo que hoje temos e desprezas. Pensa nisso. E, para a próxima, vota.
*Artigo publicado na edição de novembro do Jornal de Cá.