Psicóloga de formação e profissão, Sónia Parente abriu há dez anos a Academia Lápis Mágico, no centro do Cartaxo, onde continua a ajudar na formação de crianças dos seis aos 13 anos. Ali coloca em ação as suas funções de professora, psicóloga e amiga, e orgulha-se de ver os seus alunos crescerem felizes e confiantes para continuar o seu caminho no futuro
Antes de tomar a decisão de abrir a Academia Lápis Mágico, no Cartaxo, Sónia Parente foi conhecer alguns centros de estudo no norte do País, onde na época já existiam uns quantos. Isto depois de se deparar com algumas dificuldades por parte dos pais no que diz respeito não só à ocupação dos filhos, após as aulas, à realização dos trabalhos escolares e à aprendizagem das matérias, mas também a nível do transporte depois da escola, assim como para algumas actividades extra curriculares dos mesmos. Resolve, então, abrir um centro de estudos no Cartaxo, onde, na altura, não havia oferta.
Encontrou um bom espaço no centro da cidade e pôs mãos à obra. Realizou algumas obras de beneficiação, de modo a corresponder a todos as exigências legais, assim como para proporcionar ambientes adequados ao estudo e ao lazer, com os equipamentos devidamente adaptados.
Quando abriu a Academia, a sua ideia era mais do que capacitar as crianças para os estudos escolares, pretendendo envolvê-las também em actividades lúdicas que acha importantes na sua formação, como por exemplo as artes plásticas e as artes musicais, assim como as aulas de informática. Daí que tenha iniciado com estas actividades que, na altura eram muito requisitadas, mas passados poucos anos de ter a Academia, instalou-se a crise e deixou de conseguir formar grupos que permitissem levar avante estes projectos. Mantém as aulas especializadas de inglês e de outras matérias, com professores das devidas áreas, sempre que acha necessário. Para além disso, disponibiliza uma atividade (grátis) aos seus alunos do 1º ciclo, e com frequência aberta a todos, que é expressão dramática acerca de histórias lidas, realizada com a colaboração do Aqui Há Gato (Santarém), que pretende promover o gosto pela leitura, ajudar a desinibir e fomentar a criatividade dos mais novos.
A trabalhar com crianças do 1º ao 8º ano, Sónia Parente separa-os em dois grupos; “há o grupo dos mais velhos que funciona das 14h às 16h, que é quando chegam os mais novos e encontram-se todos no intervalo, até às 17h”. Acabado o recreio é tempo de estudo para os mais pequenos.
Acho que é importante eles sentirem que este é um sítio onde gostam de estar, daí que se façam também festas temáticas, de modo a que eles possam conviver sem ser só em ambiente de estudo
Sónia Parente
Esta é a sua segunda casa
Aquela que era uma casa de habitação comum manteve na mesma o seu aspeto acolhedor de quem está em casa, mas com espaços, com muita luz natural, imprescindível ao bem estar, destinados à leitura, ao uso de computadores, ao estudo, a atividades lúdicas e um pátio ao ar livre para as brincadeiras típicas das crianças. Tem ainda a felicidade de se encontrar a dois passos do parque infantil do Vale Verde, onde, sempre que as condições climatéricas o permitem, passam grande parte do tempo destinado às brincadeiras livres. “Acho que é importante eles sentirem que este é um sítio onde gostam de estar, daí que se façam também festas temáticas, de modo a que eles possam conviver sem ser só em ambiente de estudo”, refere a psicóloga que reconhece que “eles gostam de vir para cá”.
No fundo, Sónia Parente conseguiu adequar um espaço para desenvolver todas as actividades que acha necessárias nestas idades, de forma confortável e eficaz. O facto de ser psicóloga é uma mais-valia para esta Academia, logo para as crianças. Neste espaço, elas são acompanhadas não só no estudo, mas também na sua vida, enquanto indivíduos. A diretora da Academia faz questão de os ensinar a estar em grupo, a respeitarem-se e a fazerem-se respeitar. Todos ali dentro têm regras e deveres. O telemóvel fica à porta, não se dizem palavrões, nem há faltas de respeito, assim como são proibidos quaisquer atos de violência. E quem desrespeitar as regras sujeita-se ao pior dos castigos: não brincar nos momentos de recreio. Desta forma, ajuda-os a pensar duas vezes antes de pisarem o risco e a ponderarem se vale a pena perder a oportunidade de brincar livremente, enquanto os colegas saltam, correm e se divertem.
Mas também há lugar a recompensas. A psicóloga faz questão de, em ambiente de estudo, recompensá-los com uma guloseima ou uma salva de palmas dos colegas sempre que um dos pequenos consegue, sozinho, chegar à resolução de um problema da forma correta ou consegue tirar as dúvidas, pelos seus próprios meios. Desta forma, consegue, não só, aumentar auto estima e a auto confiança naquela criança, como também mostrar aos colegas que também eles podem conseguir chegar lá.
Enquanto estudam e fazem os seus deveres escolares, numa sala devidamente equipada com todos os materiais de apoio, necessários ao estudo, os seus pupilos devem adquirir métodos de estudo que os capacite a adquirir os conhecimentos e a chegar aos resultados a que estão propostos, através da pesquisa em dicionários, gramáticas, ábacos e mapas. “Sempre que me dizem «Tenho uma dúvida!», eu respondo: Vai ver ao livro!, ao que eles respondem «Mas eu não sei onde está no livro!» e eu digo: Procura no índice!”, até que, ao final de algum tempo, já não a chamam para tirar dúvidas, sem primeiro tentar sozinhos, conta orgulhosa. Sónia Parente incute-lhes o sentido de responsabilidade, auto-suficiência e confiança, no âmbito das aprendizagens, ajudando-os a pensar.
Reconhece que não lhe têm passado pelas mãos crianças com muitas dificuldades na escola, mas, ainda assim, acha que não deve fazer por eles o que sabe que eles conseguem fazer sozinhos, nem que seja depois de várias tentativas. Apesar de os acompanhar durante o estudo e de saber bem quais as capacidades de cada um, só depois de ver que se esforçaram para conseguir atingir um qualquer objectivo, pensando e pesquisando, é que Sónia Parente intervém de forma direta, explicando o que eles têm maior dificuldade em entender.
Brincar é saudável para as crianças e não pode ser perdido
Sónia Parente
Mais do que um centro de estudos
Não se refere à Academia como um centro de estudos porque é mais do que isso. Digamos que é mais um centro de aprendizagem, pois ali há tempo para brincar, estudar e aprender. Sónia Parente, por ser psicóloga e acompanhar crianças há já vários anos, dá grande importância às brincadeiras e aos jogos interactivos, disponibilizando sempre o tempo suficiente, antes dos momentos de estudo, para as brincadeiras ao ar livre, de modo a que os miúdos descarreguem todas as energias, antes de se sentarem à secretária para fazer os seus deveres escolares e para estudar as matérias. “Faço questão que eles tenham, pelo menos, uma hora para brincar. Se estiver a chover são brincadeiras organizadas por mim, como jogos, se o tempo estiver bom é brincadeira livre, porque eles têm uma grande necessidade disso, só depois é que começam a estudar e a fazer os trabalhos”, explica, acrescentando que “brincar é saudável para as crianças e não pode ser perdido”.
Mas se as brincadeiras são importantes, na Academia também as regras são para cumprir, sendo bem explícitas desde o primeiro dia, de modo a marcar bem a distinção entre os momentos de brincadeira e os momentos sérios, que implicam mais concentração e responsabilidade, durante o estudo. Na Academia “fazem os trabalhos, estudam e fazem o acompanhamento das matérias que vão dando nas aulas”, explica, referindo que “sou exigente com eles a nível do estudo, mas também tenho uma relação com eles, em que percebo muito bem quando é que se passa alguma coisa que os preocupa”.
“Se algumas vezes encontro dificuldades no entendimento das matérias eu explico, mas eu também percebo, devido à minha formação em psicologia, qual é a função cognitiva que não está a ser estimulada ou que ainda não foi desenvolvida e, através de exercícios e de jogos, consigo estimular aquela criança a aprender a matéria nas aulas”, diz a psicóloga, embora reconheça que “isto funciona com miúdos que estejam predispostos a aprender, o que não acontece com todos”.
“Também faço de professora, mas não consigo desligar da minha parte de psicóloga, mais do que a de professora”, diz. E visto que os acompanha a toda a hora, muitas vezes até que estes se apercebam, consegue perceber bem quais as suas capacidades e dificuldades, assim como problemas que os possam atormentar. Daí que, sempre que se apercebe de algum problema, seja no grupo ou individualmente, a psicóloga encontra maneira de, sem que estes se deem conta, falar sobre o assunto, ajudando-os a ultrapassar certos obstáculos ou somente alertando-os para as consequências de certos atos que possam cometer. “Quando eu vejo que começa a haver conflitos no grupo, meto-os a conversar”, revela, adiantando que quando nota alguma preocupação nalgum miúdo, assim que arranja oportunidade chama-o à parte e tenta perceber o que se passa com ele. “Conheço-os muito bem, nós já funcionamos como uma família. Afinal, acabamos por passar muito tempo juntos e eles têm à vontade comigo para perguntar coisas que não conseguem falar com os pais e sabem que podem falar comigo”, conclui.
Dez anos passados, Sónia Parente é visitada por alunos, hoje já adultos, que passaram pela Academia e continuam a passar, só para recordar o espaço e cumprimentar a directora.