Acasos de outono

Opinião de Augusto Parreira

Mas será mesmo assim ?!?!?!… ou estamos a exagerar.

Nem sempre é fácil falar de nós. Podemos sempre dizer que sou um otimista assumido e militante, que já vou falando sozinho no meio da rua, que rio das coisas mais parvas e em particular das minhas parvoíces, que tropeço aqui e ali, que gosto de ajudar os amigos sempre que necessitam, que sou um pouco curioso e com bom feitio, que sou calmo, tímido e extrovertido quando as circunstâncias o permitem… enfim, um “chato do caraças”.

Mas será mesmo assim?!

Diz-se que para um homem é sempre bom ver umas calças justas num corpo bem feito, uma camisa que entre os botões deixa ver uma ponta do soutien ou mesmo o regaço de um peito gracioso.

Que pensamos muito em sexo e que a sedução dá demasiado trabalho, demora muito tempo e as necessidades físicas estão primeiro.

Que quando observamos uma mulher (ou um homem bem entendido), são os seus olhos, é o seu cabelo, o seu sorriso, a sua inteligência e simplicidade que nos cativam,ou seja, é a sua personalidade que nos seduz.

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Mas será mesmo assim?!

Somos diariamente bombardeados com a noção de que o colesterol deve ser combatido e é o inimigo responsável pelo aumento crescente de doenças cardiovasculares.

Ano após ano, os valores máximos dos referentes têm vindo a baixar e os fármacos utilizados a aumentar os números do seu consumo.

Apesar desta luta os números das doenças cardiovasculares continuam a subir.

Se calhar estamos a lutar contra o inimigo errado.

Mas será mesmo assim?!

Usar palavrões será um sinal de má educação ou é simplesmente uma forma de nos expressarmos?

Diz-se que os portugueses do norte são mais genuínos, que expressam o que pensam e não se importam de usar uma linguagem menos bonita e mais brejeira. O facto de usarmos mais ou menos palavrões terá a ver com a forma mais ou menos descontraída de estar na vida?!

Falar alto, dar gargalhadas, não se importar com o que os outros dizem de nós, permitir que quem esteja na mesa do lado no café oiça as nossas conversas, pode ser até uma questão de atitude para com a vida.

Mas será mesmo assim?!

Um dos grandes mistérios da vida para cada um de nós, seres humanos, homo sapiens, é a procura constante para aprendermos um pouco mais sobre o eu- mesmo, sobre os outros-eus, ou sobre os outros- que-não-eu.

O que nós sabemos é que, somos todos mais ou menos iguais e simultaneamente muito diferentes.

Cada um de nós é único mesmo pertencendo a uma imensa multidão.

Nascemos, vamos crescendo e passamos de criança a adolescente, de jovem a adulto e pensamos que sabemos cada vez mais sobre nós.

Cada um de nós sabe quem é. Ou pelo menos pensa que sabe. Ou sabe que pensa.

Mas será mesmo assim??

Ou estamos a exagerar?!

 

Crónica publicada na edição de novembro do Jornal de Cá.

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