Opinião de Pedro Mendonça
Nas eleições europeias passadas o populismo que pensámos morto desde 1945, quando pensámos derrotar de vez o nazismo, continuou vivo, não tão forte como os jornais insistiam devido à corajosa oposição dos partidos verdes de esquerda europeísta com destaque para os verdes alemães.
Bolsonaro, Trump, Erdogan e outros populistas com raízes no fascismo venceram eleições, como aliás Hitler também venceu, com discursos baseados em mentiras (as chamadas fake news), no medo do desconhecido e no ódio ao outro, quer ele seja estrangeiro, crente em outro deus, homossexual ou simplesmente uma mulher livre e liberta das algemas que a tradição lhe pôs.
Estes novos populistas gritam imensas frases feitas como chamarem de “Marxismo Cultural” todo o pensamento que não é exatamente o pensamento deles, aliás tudo fazem para que não haja diálogo nem pontos de convergência, tudo fazem para que o mundo seja visto a preto e branco.
Outro dos chavões é gritarem que existe uma ideologia de género que quer destruir-lhes as famílias. Mas afinal o que é e porque gritam eles contra esta ideologia?
Obviamente que não se trata de uma ideologia, mentem mais uma vez. Trata-se de um conjunto de propostas, guiadas pelo primado dos Direitos Humanos. A tal ideologia de género é apenas a reivindicação de direitos e garantias fundamentais, com objetivo de acabar com o sexismo, misoginia, homofobia e transfobia, ou seja, esta nova extrema-direita não se comove com refugiados a morrer no Mediterrâneo, mas horroriza-se com a igualdade entre cidadãos e com o respeito que devemos ter com o que é diferente de nós.
Escrevo este artigo porque, apesar de movimentos como o BASTA o PNR (a extrema-direita portuguesa) não terem tido sucesso nestas eleições, estes ventos de populismo e de medo à igualdade já chegaram aos grandes partidos da direita portuguesa como é o caso, infelizmente, do Cartaxo, veja-se o caso de Jorge Gaspar, ex-candidato do PSD numa coligação fake, à Câmara Municipal com um partido inexistente no concelho (Nós). Jorge Gaspar já começou a usar as redes sociais à moda de Trump e Bolsonaro para gritar contra a Esquerda Estatizante (o tal marxismo cultural) e a ideologia de género como se o país estivesse em perigo.
Espero que o Cartaxo, em nome da decência, continue a responder com indiferença e derrotas eleitorais a estes aprendizes de feiticeiro que não gostam e não aceitam a beleza que é vivermos em paz com os outros diferentes de nós.
*Artigo publicado na edição de junho do Jornal de Cá.