Mês de janeiro… apesar do título desta crónica já ser deveras elucidativo, há que ter sempre presente outro ditado popular… jamais haverá Ano Novo se continuarmos a copiar os erros dos anos velhos.
O primeiro mês do ano é sempre o mês do começo (ou do recomeço), símbolo do deus Jano que segundo a mitologia Romana, tinha duas faces, uma olhando para trás, o passado, e outra olhando para a frente,o futuro. Se é neste, que se baseia a esperança de ter uma vida equilibrada e saudável, com a adrenalina do dia de amanhã ser sempre imprevisível, é no passado que acumulámos e assentamos toda a experiência da nossa vida, construindo a chamada maturidade.
E foi neste passado vivido, que no início de todos os anos dirijo todas as minhas preces religiosas com mágoa e tristeza pelo acontecimento marcante de uma explosão de gás na Escola Secundária do Cartaxo, precisamente há 30 anos (como o tempo voa!).
Na minha pessoa, foram momentos inexplicáveis onde não encontro adjetivos plausíveis para descrever aqueles momentos, com a consciência de que perante a dramática situação, tudo fiz ao meu alcance numa azáfama aflitiva, não descansando enquanto não fui retirando todos os meus colegas no meio de lavaredas, da minúscula sala da Associação de Estudantes, da qual era presidente.
Infelizmente, o colete de material inflamável que vestia e o sangue que escorria pelos meus braços das veias cortadas nos vidros das janelas, levaram-me a saltar por estas, enrolando-me numa poça de água daquele dia chuvoso. A partir desse momento todas as minhas forças foram se desvanecendo e o equilíbrio de orientação escasseando.
Ainda me recordo da recusa de boleia que tive de um carro particular porque o seu condutor achava que lhe sujava o veículo de sangue, pois tinha a mínima noção que as ambulâncias eram prioritárias para outros colegas muito mais necessitados.
Desde esse dia que as noites sem dormir se tornaram repetitivas e aquele meu ano lectivo (no 12º Ano) de procurar a melhor média para entrar na Universidade, foi completamente dizimada e adiada, pois os exames a nível nacional não contemplavam exceções, ou seja, como nada tivesse acontecido.
Gostaria de deixar aqui bem vincado um grande enaltecimento ao meu amigo Vasco Cunha, que fazendo fruto das suas funções na qualidade de deputado da nação, lutou sempre acerrimamente pelos direitos dos nossos colegas mais afetados conseguindo após vários anos de processos burocráticos, que se fizesse a devida justiça e o Estado através do Ministério da Educação, procedesse aos respetivos pagamentos das indemnizações através de um moroso acordo extrajudicial.
Quero prestar a minha homenagem aos colegas que faleceram neste trágico incidente e aos que tendo sobrevivido, ficaram marcados física e psicologicamente de forma irreversível mas que souberam, com o apoio firme e abnegado das suas famílias, ir reconstruindo as suas vidas, passo a passo, sempre lutando pelos seus direitos com fé e uma virtuosa esperança num futuro mais luminoso. São a parte mais importante de um exemplo de lição de vida no Cartaxo e merecem toda a nossa consideração e respeito.
E porque agora só me resta desejar-lhe um feliz ano novo cheio de saúde e paz aqui vão esses sinceros votos que não são de lá, nem dali, mas sim de Cá.