António Mesquita – um tributo que tarda na toponímia cartaxense

Deixou todos os seus bens à sua querida e amada Vila do Cartaxo representada pela sua Câmara Municipal

Por Rogério Coito, historiador

A 13 de Agosto de 1946 faleceu na então vila do Cartaxo com 78 anos de idade António da Silva Mesquita abastado proprietário e irmão do dramaturgo Marcelino Mesquita. Como era solteiro, deixou todos os seus bens à sua querida e amada Vila do Cartaxo representada pela sua Câmara Municipal. Dos bens que doou constavam: uma propriedade situada na Rua Marcelino Mesquita composta de parte urbana e parte rústica (…) com todas as estantes, livros, mesas e cadeiras existentes nas duas salas e que esse legado seria para uma Biblioteca Pública. No restante terreno anexo à casa viria mais tarde a ser construída a Escola José Tagarro. Deixou ainda à mesma Câmara a Quinta da Ribeira, em Pontével, com a obrigação de aí construírem uma maternidade, uma casa de educação para crianças pobres e um asilo para velhos e inválidos ficando no entanto a sua sobrinha Inês e o seu filho António Ressano Garcia com o usufruto da propriedade até à morte do último. Caso a Câmara não aceite este legado o mesmo reverterá a favor daqueles que legalmente sucederem aos usufrutuários, o que de facto veio a acontecer.

Republicano em tempos de monarquia fez todas as campanhas a favor da implantação da República tendo depois servido como Administrador do Concelho em 1910 e 1915 e presidente da Câmara Municipal em 1923. Colaborou em diversas organizações nomeadamente na instalação do Crédito Agrícola que no Cartaxo começou a funcionar a partir de 1911, no teatro amador colocando de pé várias récitas geralmente com fins sociais e dado o seu gosto por temas de cultura, a ele se ficou a dever a vinda aos Chavões do célebre pianista húngaro Liszt que andava em digressão pela Europa. Dedicado à fotografia como forma de expressão artística participou em numerosas exposições alcançando prémios, tendo a fotografia “Lagareiro” sido exposta em Lisboa no I Salão Nacional de Arte Fotográfica.

Colaborou com numerosos escritos em revistas abordando temas da viticultura realçando aspectos etnográficos em relação à festa da vindima no Cartaxo como se poderá ler no “Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém” de Novembro de 1936: Como era natural, sendo a cultura da vinha e o fabrico do vinho objecto de um verdadeiro culto no Cartaxo, o período das vindimas era duma beleza, dum entusiasmo indescritíveis, que se comunicavam até aos estranhos. As mulheres cantavam na vindima, cantavam pelos caminhos cercando os carros com as dornas das uvas, cantavam ainda à noite nos pátios e nas adegas onde iam desafiar os lagareiros para o bailarico (…). Depois o grande drama que foi a filoxera, que destruiu quase toda as vinhas em Portugal e à qual as vinhas do Cartaxo também não escaparam, foi a António Mesquita que se deve o início da recomposição da vinha no Cartaxo com a introdução do bacelo americano. Escreve ele em 1 de Fevereiro de 1890: O primeiro bacelo americano que se plantou no Cartaxo foi na vinha ao Casal Branco, conhecida pelo nome de vinha do Pardal, por ter pertencido a um homem de nome Joaquim Lopes Pardal.


Rogério Coito escreve de acordo com a antiga ortografia

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