Antes de Júlio César, os romanos tinham meses lunares, a cada lua nova, cumprindo 29 dias e 12 horas de curso, tendo o líder instituído o calendário Juliano, não lunar, sendo as calendas o primeiro dia de cada mês.
Nesta renovação de ciclos cumprimos agora a passagem para um novo ano e também aqui a antiga Roma dita a nomenclatura, pois janeiro provém do latim Ianuarius, décimo primeiro mês do calendário de Numa Pompílio em homenagem a Jano, deus do começo e transição, com duas faces a representarem o passado e o futuro.
As celebrações populares da entrada no novo ano revestem esta dicotomia entre deixar para trás o que já foi vivido e colocar todas as crenças e votos no que aí vem, como se a simples transição de ano lavasse todos os males e renovasse a esperança em melhores dias.
São esses dias que o mundo necessita e carece. Pois a realidade mostra que os problemas continuam bem presentes. A odiosa guerra na Ucrânia que tarda em ter um fim, a crise energética que de mãos dadas com uma inflação persistente e taxas de juro altas mantêm a pressão sobre as carteiras de todos. Se no Brasil com a eleição de Lula da Silva a esperança renasce para pelo menos metade dos eleitores, por cá a instabilidade política assombra os melhores desígnios para um bom arranque de ano. Numa conjuntura difícil para a maioria dos portugueses, com as rendas da habitação em alta, os preços dos bens essenciais mais caros, e as tradicionais subidas da energia e portagens, assistir aos atentados políticos como os do dossier TAP, com a polémica indemnização à cabeça e a dança das cadeiras nas secretarias de estado e ministérios, é além de criticável, de lamentar.
Também a mensagem de ano novo do presidente da república nada augura de bom quando afirma ser este ano crucial para inverter o rumo e operar as mudanças necessárias, face aos três anos seguintes em que a agenda política se sobreporá a tudo o mais. Revelador da importância que a governação para eleições assume na nossa democracia, relegando para segundo plano o que deveria ser o primeiro, uma reforma do estado e das prioridades nacionais, com maior e melhor investimento, controlo de custos e criação de riqueza, de modo a gerar mais e melhores oportunidades de trabalho. Temo que tal como tal como referiam os romanos, fique para as calendas gregas, ou seja, para nunca, uma vez que os gregos não as tinham nos seus calendários.