As ilhas de calor

Opinião de Pedro Mendonça

Criticamos Donald Trump por ter abandonado o combate às alterações climáticas e negar as evidências cientificas que as demonstram. Os Estados Unidos, com a sua força poluidora, têm a obrigação de combater as mudanças climáticas visíveis, mas e o Cartaxo, deve ter a pretensão de combater as alterações climáticas? Sim, desde logo atuando em coisas tão simples como a boa gestão do tráfego automóvel, mas, a meu ver, o Cartaxo deve ter como prioridade mitigar e adaptar-se às suas consequências, pois tem como fazê-lo, mesmo financeiramente estrangulado.

As alterações climáticas notam-se nas cidades essencialmente através do aumento médio de temperaturas elevadas, seca extrema, cheias e vento. Estes fenómenos sempre existiram, mas o que está a mudar é a intensidade com que se verificam, duração e frequência cada vez mais elevada.

Falando de temperaturas, todos sentimos na pele, o calor abrasador tradicionalmente entre junho e setembro e na rua só se está bem à sombra. A sombra e o efeito de redução média da temperatura, e da sensação térmica que a acompanha, são dois dos muitos serviços que as árvores de cidade fornecem a quem nela habita. No entanto, no Cartaxo, as árvores têm vindo a declinar, por via de uma má gestão urbanística e podas abusivas e mal realizadas.

Nas cidades pouco arborizadas ou com árvores “carecas”, como a nossa, dá-se o fenómeno “Ilha de calor”, isto é, criam-se espaços onde a temperatura está acima da média das outras zonas da cidade ou do concelho.

As ilhas de calor ocorrem nas cidades devido à elevada capacidade de absorção de calor de superfícies urbanas como o asfalto, à falta de áreas revestidas de vegetação, prejudicando o poder refletor, pois quanto maior a vegetação, maior é o poder refletor; à impermeabilização dos solos que reduz o processo de evaporação levando a mais calor; à concentração de edifícios, que interfere na circulação dos ventos ou à poluição atmosférica que retém a radiação do calor, entre outros. Um exemplo são parques de estacionamento, como alguns no Cartaxo, desprovidos de árvores, totalmente alcatroados e com a poluição dos carros seus utentes. Estas ilhas potenciam o aquecimento global e fazem sentir os seus efeitos de forma indesmentível.

Com um novo vereador para o ambiente, existe a esperança de finalmente o Cartaxo começar a combater e a adaptar-se aos efeitos das alterações climáticas e a ter medidas para evitar a formação das ilhas de calor urbanas através de soluções, sobretudo de base natural. Alguns exemplos são a arborização sempre que possível, mesmo em pequenas intervenções em ruas já consolidadas ou nos já falados parques de estacionamento; a utilização de soluções extensivas de sequeiro (como prados biodiversos) adaptando a estrutura verde à seca, por oposição as soluções de regadio como os relvados; travar a impermeabilização de solos, facilitando a infiltração de água das chuvas; a criação de bacias de drenagem através da modelação de terrenos em novos espaços verdes e procurar no novo planeamento urbano ou em requalificações fazer o chamado “design urbano sensível à água” para permitir que possamos conviver com o curso natural da água.

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  • Artigo publicado na edição de junho do Jornal de Cá.
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