Coisas da Economia de cá e de lá, por Renato Campos
Incontestavelmente, são os homens e as mulheres, com todas as suas capacidades físicas, intelectuais, aptidão profissional e o seu relacionamento organizacional, os grandes e principais obreiros do desenvolvimento das terras. As infraestruturas e os equipamentos, não são mais que “instrumentos”, de inegável importância, que o devem viabilizar e potenciar de uma forma sustentada.
Ao contrário de certas vozes que, simplista e irresponsavelmente, colocam em causa a oportunidade e a bondade dos investimentos públicos, considerados como coisa demoníaca, sempre defendemos a indesmentível importância que os investimentos estruturantes, bem dimensionados, possuem para o desenvolvimento de uma região. Sobretudo, quando esta é manifestamente carecida em certo tipo de equipamentos, como de acessibilidades ou de prestação de níveis qualitativos de vida. Basta lembrarmo-nos dos tempos de deslocação, com que ainda há poucos anos eramos confrontados, ou da falta de equipamentos escolares e de saúde de qualidade, sobretudo no interior rural.
No Portugal de hoje, face aos desafios estratégicos qualitativos de uma crescente competitividade, o cerne das atenções dos políticos e as prioridades do Estado devem centrar-se na valorização e qualificação da população, afinal a principal riqueza, nas sociedades modernas.
Também é certo que, muitos equipamentos e auto estradas, por muito mérito que tenham, se não forem devidamente complementadas com outras potencialidades que lhes valorizem o aproveitamento, poderão apenas possuir um único e perigoso sentido: “esvaziar” e empobrecer uma região. Isto se a capacidade e a inteligência dos seus agentes de desenvolvimento não forem, antecipadamente, capazes de planear e dinamizar as capacidades endógenas e logísticas do território. Por muito betão que as infraestruturas possuam, estas, só por si, não dinamizam nada. A aposta agora, terá que ser na modernização dos meios de produção e na valorização das populações procurando numa melhor educação e formação ao longo da vida, uma maior qualificação profissional e uma forte aposta na inovação e investigação.
Não podemos ignorar que, segundo valores do INE, apenas 26% da população dos 25 aos 64 anos (a idade mais activa!) tinha completado, pelo menos, o ensino secundário, quando o valor médio para a U.E. é de 63%. Esta situação torna-se mais grave se referimos os ainda cerca 9% de analfabetos existentes no distrito de Santarém. Inequivocamente, estamos perto de países como a Espanha, a Itália e a Grécia, mas infelizmente ainda a anos-luz dos valores dos países do norte e centro da Europa.
Lamentavelmente, as apostas de hoje, não tapam a existência de alguns “elefantes betonares”, consequência de “projectos visionários”, que não conseguiram mais do que deformar a paisagem e apagar património histórico. O Cartaxo, infelizmente, possui alguns recentes e bem “centrais” exemplos. São situações a que o realismo e o bom senso leva a não repetir.