Até nunca Portugal

"Portugal pouco tem para oferecer na verdade. Salários baixos, impostos e rendas altíssimas, cuidados de saúde em perda, escolarização estagnada e pouco atrativa. O futuro veste as cores de outras bandeiras e o país vai ficando para os mais idosos". Invictamente, por João Fróis

A debandada dos jovens continua, a estagnação de Portugal levou a que mais de 850 mil cidadãos entre os 15 e os 39 anos abandonassem o país, nas duas últimas décadas, em busca de melhores oportunidades e mais qualidade de vida. Portugal conseguiu alcançar a mais alta taxa de emigração da Europa e uma das maiores do mundo, agravando ainda mais a taxa de fecundidade, já de si medíocre, com a saída de mais de 30% de mulheres em idade reprodutiva. O cenário é mais que preocupante, é mesmo calamitoso. Estamos a deixar sair os jovens, muitos deles qualificados, que deveriam ser o futuro e ajudar a reformar e fazer evoluir o país, e estamos a fazer entrar cidadãos estrangeiros, de baixa qualificação e que nos usam como porta de entrada na Europa e na união europeia.

No ano em que vamos celebrar os 50 anos do 25 de abril, temos mais razões para preocupação do que para festejos. A liberdade conquistada permitiu-nos recuperar parte do atraso estrutural face aos congéneres europeus, nomeadamente a partir da entrada na União Europeia em 1986, mas logo nos primeiros anos os indicadores da forma como estávamos a usar os fundos vindos de Bruxelas não auguravam nada de bom. A corrida a dinheiro fácil foi abrupta, houve um desperdício enorme no investimento real na economia e na indústria, em prol do enriquecimento dos oportunistas que sorveram milhões sem haver um controlo efetivo sobre a sua aplicação. Na gestão pública a aposta maior foi na construção de infraestruturas, com as autoestradas à cabeça, aproximando o litoral do interior, mas fazendo cobrar a utilização até aos dias de hoje, ao contrário do que sucede na vizinha Espanha onde as autoestradas pagas são a minoria. A economia raramente foi a maior aposta e não se viu uma vaga reformadora que incentivasse a modernização profunda dos tecidos produtivos, havendo sim programas de crédito limitados no tempo e não acessíveis a todos.

Sem o crescimento da economia não foi possível crescer e acompanhar o ritmo europeu de modernização e evolução constante. Por cá assistimos a um emagrecimento dos setores agrícola e pesqueiro, ao abandono e deslocalização de empresas industriais para países com políticas fiscais mais atraentes e mão de obra mais barata e a um crescimento dos serviços e do turismo. Pelo meio o estado engordou e manteve uma dependência nociva dos que insistiu em subsidiar e manter cativos da sua alçada. Sem uma economia vigorosa a gerar riqueza, o aumento dos impostos, diretos e indiretos, tem sido o mote das últimas décadas, asfixiando a quase esmagada classe média e na sua maioria trabalhadora por conta de outrem.

Depois vemos a rotura do SNS, a estagnação na educação e o caos na habitação, com preços absurdos e incomportáveis para cada vez mais cidadãos, e não nos podemos admirar que a emigração volte a ser o destino de cada vez mais portugueses. Portugal pouco tem para oferecer na verdade. Salários baixos, impostos e rendas altíssimas, cuidados de saúde em perda, escolarização estagnada e pouco atrativa. O futuro veste as cores de outras bandeiras e o país vai ficando para os mais idosos, para os que insistem em apoiar a família e para os que vivem na imensa sombra de um estado despesista, cobrador e gestor de subsídios e apoios, paliativos que não disfarçam a doença gritante que ameaça colapsar o país.

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