Márcia Gil trouxe o ballet ao Ateneu Artístico Cartaxense em 2004 e desde então ali se tem mantido a formar crianças e jovens no bailado. E continuou o seu trabalho com eles durante os confinamentos, mantendo-os focados, à distância. Como resultado do esforço e dedicação de todos, voltaram a apresentar o habitual espetáculo de final de ano, no Centro Cultural do Cartaxo, com menos público, dadas as restrições, mas com muitos sorrisos
e aplausos.
Com o passar dos anos, o trabalho do ballet e da dança desenvolvido pela professora Márcia Gil no Ateneu Artístico Cartaxense vem ganhando cada vez mais alunos, na realidade são na maioria alunas – tem atualmente um rapaz numa das suas classes. Neste último ano letivo não foram tantas as alunas como as que tinha antes da pandemia, que eram 70, mas ainda assim contou com mais de trinta alunos empenhados em fazer parte deste projeto no Ateneu. O trabalho desenvolvido por Márcia baseia-se num grupo de dança que estuda a técnica de Ballet Clássico, baseado na metodologia Vaganova. “Desenvolvemos competências e criamos as nossas coreografias em estilo Clássico, Jazz e Lyrical”, explica a professora, que há 17 anos vem formando, no Ateneu, dezenas de crianças e jovens no bailado clássico.
No final deste ano letivo, como acontece habitualmente, nos últimos anos, o Ballet do Ateneu levou um espetáculo de bailado ao Centro Cultural do Cartaxo para mostrar as aprendizagens e o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos meses de aulas – o Ballet “LesMillionsd’Arlequin/ Harlequinade”. Segundo a professora, “houve muito trabalho de casa e muita gestão para conseguirmos a realização do mesmo. Tivemos que aprender, ensaiar e finalizar todo o espetáculo em apenas dois meses”.
O espetáculo de final de ano “é importante, é a conclusão de todo o trabalho que realizámos. Os exercícios de condição física, o desenvolvimento da técnica para uma melhor performance e a própria auto-estima resultam na participação de um trabalho coletivo”. E, este ano, com a apresentação de Harlequinade “correu lindamente, todos estavam felizes e dispostos para tudo correr bem e, no final, deu tudo certo. Devido à pandemia, decidimos que o uso de máscaras, mesmo durante a atuação, seria necessário”.
“O tema Harlequinade também foi um incentivo. É um ballet engraçado, com coreografias dinâmicas de Marius Petipa e com lindas músicas de Ricardo Drigo. Os personagens Arlequin, Colombina, Pierrot, Pierrete e a fada Fiorine trouxeram alegria para o palco e para a plateia”, salienta a professora de Ballet do Ateneu, lembrando os tempos difíceis que vivemos nos últimos meses.
“O ano letivo 2020/2021 foi um ano de aprendizagem, apesar de desafiador. Como em todas as atividades, foi um tempo de avaliação e de contínua adaptação e perseverança, onde o amor e o compromisso ao que se faz foi fundamental. Começámos a época com ensino presencial, depois passamos para o sistema online, onde a experiência com a época passada contribuiu para o desenvolvimento da aula, criando uma rotina e espaço em casa para a atividade”, conta a professora Márcia, adiantando que as aulas à distância “ajudaram a não perder o condicionamento físico, o que possibilitou a realização do espetáculo. Quando o grupo decidiu que iríamos avançar com a apresentação, os alunos realmente se comprometeram e agarraram o projeto, sendo assíduos e responsáveis”.
Também as aulas presenciais tiveram de ser adaptadas à nova realidade pandémica, trazendo “muitas limitações”, como “o número de participantes por turma, para mantermos o distanciamento social, a redução de horas de aula aos sábados e o uso de máscara durante a atividade”. Diz ainda a professora que, com estas limitações, “as aulas tinham que ser bem planeadas para serem mais eficientes para aproveitar o máximo daquele encontro e ao mesmo tempo serem dinâmicas para manter o grupo motivado”.
Atualmente, o ballet do Ateneu conta com 34 alunas e um aluno, com idades entre três e 24 anos. “Cada turma tem uma aula planeada e condizente com a faixa etária”, informa a professora, adiantando que o curso está dividido em: iniciação à dança, com crianças dos três aos cinco anos; classes de iniciantes e intermédios, com crianças dos 6 aos 11 anos; e classe dos avançados, com alunos a partir de 12 anos.
Márcia é da opinião que “a idade ideal para se iniciar uma atividade, se a criança demonstrar interesse e maturidade, é de aproximadamente três anos de idade, realçando que “o contacto com a música, o ritmo e o exercício no ballet contribuem para o desenvolvimento da criança” e promove “o desenvolvimento da imaginação, através das histórias”.
Mas, qualquer pessoa, independentemente da idade, pode começar a praticar ballet. No Ateneu, onde está desde 2004, Márcia diz que recebem muitas crianças e jovens. “A maioria dos alunos quer fazer Ballet como uma atividade ou como um hobby. Poucas alunas demonstraram quererem tornar-se bailarinas profissionais de dança, apesar do talento. A única aluna que demonstrou o interesse de seguir profissionalmente, e que seguiu a minhas orientações, hoje está na Escola do Conservatório Nacional de Lisboa. Com ela também realizei um trabalho de coaching individual que lhe valeu a aprovação no Curso de férias na Academia Vaganova, em São Petersburgo.”
A maioria dos seus alunos deixa o ballet quando chega a altura de ir para a universidade, conta, frisando que “para se tornar um profissional de dança é necessário muito investimento, tanto de tempo como de recursos. É também necessário confiar na palavra do professor, para saber qual o momento e as possibilidades de realizar uma prova para uma escola profissionalizante”.
“O Ballet do Ateneu Artístico Cartaxense tem como objetivo desenvolver o melhor que os seus alunos possuem, respeitando as suas limitações e promovendo as suas competências, orientando-os para os caminhos que queiram percorrer na dança”, resume a professora, reconhecendo ainda que “é muito gratificante receber crianças aos três anos, que saem do Ateneu quando são mais velhos e saber que, de algum modo, contribuímos para formação daquele indivíduo. O trabalho, o foco e a disciplina que são valorizados na prática do ballet conferem ao aluno uma mais-valia para todas as áreas da sua vida”.