Opinião de José Barreto
A pandemia Covid-19 veio acentuar as desigualdades sociais, agravando a situação de milhares de trabalhadores que estiveram e/ou ainda estão em situação de lay-off, que se viram espoliados de uma percentagem significativa dos seus rendimentos, e de muitos pequenos empresários que tiveram que encerrar as portas dos seus negócios, que se viram privados da totalidade dos seus rendimentos.
Constato que o Estado não tem cumprido com as responsabilidades que lhe estão acometidas, e que prometeu com todo o alarde propagandístico, de apoio a quem esta pandemia lançou na desgraça económica ou que muito agravou.
No caso dos trabalhadores por conta de outrem, o Estado prometeu o «Complemento de Estabilização de Rendimentos», que até agora não foi cumprido e que criou mais exceções do que apoios.
Aos trabalhadores com situação de emprego precário o apoio foi praticamente nulo e a maioria ficou sem trabalho: milhares não tiveram os seus contratos de trabalho renovados, muitos, por entidades patronais que receberam apoios do Estado.
Não sinto que esteja a ser concretizada a almejada «retoma»: com a perda de rendimentos da população em geral, entramos numa espiral de perda da economia, onde os pequenos e micro empresários não conseguem responder às suas obrigações, nem sequer bancárias, por falta de negócio, tendo sido empurrados para o endividamento por esta política do Governo, porquanto não tiveram as mesmas possibilidades de apoio que as grandes empresas.
Um dos setores sociais que tenho visto mais afetado por esta nova circunstância é o apoio à população mais idosa: somos constantemente bombardeados pela informação de novos surtos epidémicos, cada vez mais generalizados, em lares de idosos.
São estas instituições apoiadas largamente pelo Orçamento de Estado, mas tenho a convicção de que um «Serviço Nacional de Acolhimento de Idosos», público, sem visar o lucro, traria a toda a população idosa as condições que merece nos últimos anos da sua vida.
Dirão que o Estado não pode subsidiar tudo e todos, com o argumento da falta de receitas, mas vejo milhares de milhões de euros a ser continuamente entregues à banca, vemos 20% do nosso PIB anual a fugir para offshores, e ainda vemos dois mil milhões de euros de dividendos da bolsa sem serem taxados.
Se isto não fosse permitido, nem amplamente apoiado, certamente o Estado teria dinheiro para cumprir as suas obrigações sociais e seria uma oportunidade para ficarmos todos bem…
*Artigo publicado na edição de setembro do Jornal de Cá.