Camaleão, o dragão pachorrento

Texto e fotos: Paulo Oliveira

 

Podemos encontrá-los ao longo de toda a costa algarvia, com especial incidência entre Vila Real de Santo António e Quarteira.

Vivem preferencialmente sobre arbustos como a giesta, retama ou loendro, podendo, no entanto, também subir a acácias e outras árvores.

Os seus membros estão magnificamente adaptados a este habitat: os dedos dispostos em dois grupos estão soldados até à última articulação, formando como que uma pinça de grande utilidade para a deslocação sobre ramos finos. A cauda preênsil funciona como uma quinta mão, assegurando igualmente uma sólida fixação.

Camaleão africano

Os olhos podem mover-se independentemente um do outro, permitindo-lhe explorar uma vasta área em seu redor mantendo-se imóvel. Quando concentram a visão sobre uma presa, os olhos convergem no mesmo ponto deixando-os calcular com uma precisão telemétrica a distância que os separa do inseto.

Estrictamente insetívoro, o camaleão captura as suas presas com a língua protátil, alojada, quando em repouso, na parte inferior da cavidade bucal. A língua pode distender-se até um comprimento igual ao do animal, ou seja, cerca de 25 a 30 cm. Um muco viscoso segregado na extremidade dilatada da língua traz a presa colada para a boca. Este movimento de projeção e retração da língua é extremamente rápido, da ordem da fração do segundo, não deixando ao inseto tempo para reagir

Contrariamente ao que a maioria das pessoas ainda pensa, as mudanças de cor no camaleão não têm que ver exclusivamente com a necessidade de camuflagem para proteção do animal. Muitos outros fatores influenciam também estas mudanças de coloração tais como as variações de luz, de temperatura, o sexo, assim como o próprio humor do animal.

Quando assustado defende-se por vezes assumindo um aspeto ameaçador. Escurece a coloração e fica inchado, enchendo os pulmões de ar. Ao mesmo tempo abre a boca ao máximo, emitindo um silvo surdo. Os gregos chamavam-lhe por isso chamai leon, o que significa pequeno leão.

Camaleão, come gafanhoto

O aspeto curioso e a docilidade destes animais leva muitas pessoas, sobretudo as crianças, a desejar tê-los em casa, o que é de certo modo compreensível mas deve ser evitado. Todos os anos dezenas de camaleões são capturados no Algarve e vendidos a turistas. Alguns deles têm a sorte de serem largados aí, no fim das férias, nos hoteis e no campo, mas a maior parte deles é trazida para as cidades e condenada a sofrer até à morte.

O homem é, de facto, no nosso País, o principal inimigo destes simpáticos répteis. Ao contrário de outros animais, eles são até bastante tolerantes em relação à presença humana nos seus domínios. O lixo inevitavelmente associado à prática do campismo acaba por atrair insetos que lhes servem de alimento. Para os proteger basta apenas refrear o nosso egoísmo, deixando os camaleões viver verdinhos e contentes onde eles verdadeiramente pertencem: na natureza.


Crónica de Paulo Oliveira, publicada na revista DADA, edição impressa nº60

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