As queixas sobre o estado de desleixo de vários espaços públicos são muitas. Ouvem-se nas conversas de rua e de café, leem-se nas redes sociais… O descontentamento é geral. Fomos perguntar aos responsáveis políticos porque é que o Cartaxo não está mais bem tratado?
São as ruas cheias de ervas, os espaços verdes descuidados, vários equipamentos degradados e outros vandalizados e até o avistamento de ratos no lago dos patos e noutras zonas da cidade. Afinal, porque não está o Cartaxo mais bem tratado? Fomos, como seria de esperar, perguntar aos responsáveis políticos porque é que o estado da cidade se encontra tal como há um ano, altura em que os questionámos sobre este assunto, mas, desta vez, não falámos só das ervas e do lixo nas ruas, quisemos perceber porque razão continuam os espaços públicos com um ar desprezado. As condições financeiras da Autarquia, a falta de meios humanos e operacionais e a impossibilidade de contratar pessoal são as justificações apresentadas, mas já lá vamos.
O lago dos patos, situado no jardim central do Cartaxo, é um local emblemático, que serve de passagem a muitos cartaxeiros, e não só, mas é, antes de mais, um sítio onde, tradicionalmente, avós e pais levam os filhos a ver os patos, os cágados e, pasme-se, os ratos. Estes últimos animais não seria suposto encontrar ali, mas lá estão eles, tão ou mais divertidos que os patos, mergulhando e passando de buraco em buraco nas paredes do lago. Como se não bastasse a pintura desgastada, a rede em volta deteriorada, a água estagnada, naturalmente, suja, o repuxo que nunca mais se viu a funcionar e a área envolvente pouco cuidada. O lago dos patos é um dos locais que mais vem indignando os cartaxeiros, havendo até quem já se tenha oferecido, nas redes sociais, para pintar as paredes do lago, desde que lhe dessem as tintas.
Para Pedro Nobre, vereador responsável pelo pelouro do ambiente, obras e equipamentos municipais, “o lago dos patos é um problema que já não é de agora, que se arrasta há uns anos” e que requer “um arranjo profundo”, lembrando que “houve uma intervenção com uma pintura e com a contratação de uma empresa que, nos últimos três anos, esteve a fazer um tratamento”. Um procedimento que está prestes a terminar e que o vereador diz já ter acautelado, em reunião com a dita empresa, “sobretudo para lhes dizer o que é que não estava a correr bem, que era quase tudo”. Segundo o vereador, “o tratamento que estávamos a colocar na água não estava a resolver o problema, mantendo-se a opacidade da água”, com a empresa a aferir que “provavelmente aquilo obriga a uma intervenção diferente e, por isso, o que vamos fazer ali é muito mais profundo. No fundo, nós temos ali água que não é corrente. O motor está avariado e ao não haver uma oxigenação da água o produto acaba também por não funcionar e não ter o efeito desejado”. Pedro Nobre diz que “o que formos fazer, vamos fazer bem”. Ou seja, “o que me parece que temos que fazer é retirar a água, retirar os animais, fazer um arranjo profundo no lago, pintar com uma tinta adequada para aquele tipo de equipamento e, em simultâneo, arranjar a bomba da água, porque com isso a funcionar normalmente também já a empresa que está a fazer o tratamento da água tem outra capacidade de as coisas correrem bem. É preciso perceber qual o equilíbrio no tratamento que tem que se dar, tendo em conta que há ali animais”.
Ainda não é neste verão
A parte menos boa da solução encontrada para este espaço é que o arranjo não é para agora. “No imediato, nós não vamos conseguir fazer uma intervenção de curto prazo. Queremos planear até ao fim do ano conseguir lá fazer alguma coisa”, mas “ainda este verão é impossível resolver, porque queremos fazer uma intervenção em condições para pôr todo o equipamento a funcionar”, explica o vereador, justificando que “a falta de meios humanos que temos para operar acaba por inibir muito a nossa atuação e não estamos numa situação financeira com meios para a contratação de pessoal”.
Relativamente aos ratos, o vereador informou que na Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) estão a terminar o procedimento para a desratização no Cartaxo, “onde há zonas que precisam de uma intervenção urgente”, explicando que este “é um problema transversal a várias cidades da lezíria do Tejo e por isso é que se optou por fazer esse procedimento com a CIMLT, sobretudo depois destes anos em que houve períodos de grande seca e depois grandes chuvadas, que acaba por aumentar ainda mais esta situação”. Neste caso, a boa notícia é que “esperamos, ainda no mês de agosto, ter o procedimento terminado para poder fazer essa intervenção”, nomeadamente em zonas de linhas de água, zonas de esgoto e noutras em que se identifique a necessidade de intervir nesse sentido.
Já no jardim do Valverde está prevista uma intervenção “de mais curto prazo”, assegura Pedro Nobre, depois de ser confrontado com outro exemplo de espaços verdes e de lazer do Cartaxo. Depois da revitalização deste espaço promovido pela EcoCartaxo, em 2014, que uniu esforços de vários cidadãos voluntários, envolvendo muitos jovens, a sua manutenção vem-se revelando insuficiente, no que diz respeito, principalmente, à pintura dos muros. Sendo este também um local de passagem, é, acima de tudo, um espaço de lazer para crianças, jovens e adultos. É um espaço central, com algumas árvores que, estando mais cuidado, poderá ser uma alternativa agradável para passar umas horas com as crianças nos dias quentes de verão. Pois fica a promessa de que este “é um espaço que queremos reabilitar, em breve, com uma pintura, com a água a funcionar”, sendo ainda um objetivo “conseguir lá pôr alguém a explorar o espaço”, adianta o vereador.
Não é por falta de conhecimento e de consciência do problema que ele não está resolvido; não está resolvido por falta de meios
humanos e de meios operacionais.
Pedro Ribeiro
Daqui a um ano é que vai ser
Os espaços verdes da cidade revelam-se um problema para a Autarquia. “Nós assumimos efetivamente a nossa ineficácia e esperamos que, com outro tipo de operacionalidade, ao fim do ano, se comecem a sentir algumas melhorias a esse nível”, reconhece Pedro Nobre, adiantando que “com a entrada do chamado programa de integração dos trabalhadores precários, que deverá ficar concluído até final de agosto, vai-nos permitir ter outra operacionalidade. Só nos espaços verdes vamos passar a ter um quadro estável de cerca de dez pessoas, o que permite ter três equipas a trabalhar em simultâneo, ainda que persista um problema, que é o transporte: temos uma carrinha para distribuir o pessoal. Mas conseguimos, até ao final do ano, começar a ter outra operacionalidade e começar a encurtar, cada vez mais, os ciclos”, acredita.
O presidente da Câmara Municipal, Pedro Ribeiro, confirma e adianta que “não é por falta de conhecimento e de consciência do problema que ele não está resolvido; não está resolvido por falta de meios humanos e de meios operacionais. Meios humanos até setembro vão existir, meios operacionais, a nível de equipamentos, temos feito um esforço, ao longo do tempo, para equipar a Câmara, mas depois é preciso dar formação, mas isso só com uma equipa estável”. Desta forma, assegura o presidente, “já vai ser possível contrariar aquilo que tem existido”. O que não é possível, segundo o mesmo, é entregar estes espaços a privados, como fazem muitas cidades vizinhas, como Santarém, Almeirim, Azambuja, “por questões financeiras”. E lembra que no Cartaxo há 21 hectares de espaços verdes e que “qualquer empresa privada para este espaço precisava de 20 jardineiros e nós andámos aqui a trabalhar com sete. Não é possível!”, garante, admitindo que “alguns destes espaços têm de ser obrigatoriamente redesenhados”, minorando os custos e trabalhos de manutenção. Depois, segundo o presidente, há que estabilizar “o quadro de pessoal dos jardins e da limpeza urbana, dar formação à pessoas e, em simultâneo, que tem sido o trabalho que temos feito nos últimos anos, reforçar os meios operacionais”. Por último, a autarquia quer “envolver os moradores naquilo que será a redefinição dos espaços, onde eles são utilizadores prioritários”, porque acredita que, desta forma, “vão sentir aquele espaço como deles”, considera Pedro Ribeiro.
“Um ano depois as coisas não melhoraram muito” a nível da limpeza e arranjos nos espaços públicos, reconhece o presidente, mas “há uma lei que permitiu à Câmara reforçar o seu quadro com meios humanos, que é coisa que não tem”. Daí que, neste momento, “a Câmara está em condições de assumir um compromisso que daqui a um ano tudo tem de estar diferente e substancialmente melhor”, garante o presidente, ainda que reconheça que os problemas não estarão todos resolvidos, “porque a falta de civismo não se resolve num ano”. E deixa a mensagem: “a rua tem de ser o prolongamento da nossa casa”, lançando o desafio a todos os cidadãos para que cuidem do que é público, não poluindo.