A manutenção dos espaços verdes continua a ser o ‘calcanhar de Aquiles’ da Câmara Municipal que diz não ter funcionários que cheguem para dar conta da situação, nem dinheiro para contratar mais trabalhadores. Um problema que se arrasta, há anos, e parece não ter solução à vista, uma vez que a autarquia reconhece o problema, mas não o consegue resolver.
As reclamações com o estado de conservação do espaço público, nomeadamente, dos espaços verdes, na cidade do Cartaxo são recorrentes. Todos nós já ouvimos e lemos nas redes sociais críticas ao estado de abandono a que muitos espaços se encontram votados. É a relva que seca, dando uma coloração castanha aos poucos espaços ajardinados existentes, as flores que morrem e que contribuem, também elas, para o aspeto acastanhado desses locais, são as árvores que começam a ganhar ‘ladrões’, as espécies invasoras que proliferam em canteiros, as ervas da altura de humanos… é um sem número de problemas que, amiúde, vão sendo apontados pelos cartaxeiros.
A Câmara Municipal reconhece o problema, mas continua a dizer que não tem recursos humanos suficientes para dar conta da situação, nem dinheiro para contratar os trabalhadores necessários. A área de espaços verdes conta com nove funcionários para os 21 hectares de espaços verdes a cargo da autarquia, “quando qualquer estudo indicava que precisávamos entre 27 a 29 jardineiros”, disse o presidente do Município.
Por isso, disse o vereador responsável pelo Ambiente na Câmara do Cartaxo na Assembleia Municipal de 26 de junho, a autarquia está a ponderar recorrer a uma empresa de prestação de serviços nesta área, apesar de a última experiência não ter corrido bem.
Durante a pandemia, a Quinta das Pratas ficou ao abandono. Um assunto levado à Assembleia Municipal por João Pedro Oliveira (PSD/NC), que referiu que “é com manifesta tristeza que acompanhei o estado em que se encontra a Quinta das Pratas, nomeadamente, naquilo que são os seus espaços verdes. É uma coisa que não é pontual, é um problema estrutural deste Município justificado, em larga medida, pelas dificuldades financeiras do mesmo, mas que, também, no entender do PSD, não justifica todas as situações que vamos vendo. Este executivo já está há mais de sete anos e continua a não conseguir resolver”. Daí, o eleito quis saber se a Câmara Municipal já ponderou lançar um concurso público para “estas zonas onde tem tantas dificuldades” e se “tem noção daquilo que são os rendimentos do trabalho que é feito pelo trabalhadores e se existe um esforço de otimização das equipas na gestão e manutenção destes espaços? Porque não consigo entender como é que em determinados momentos do ano nós vivemos estas situações e, às vezes, quando nos aproximamos de algumas efemérides, de quatro em quatro anos, as coisas acabam por melhorar pontualmente e depois voltamos à mesma situação”.
“Não conseguimos escamotear esse facto. E com as condições climatéricas dos últimos dois, três meses, sol e chuva frequente e alternadamente, obviamente que a natureza faz o seu papel. O problema é, efetivamente, os meios instalados e a capacidade que não temos”, começou por dizer Pedro Nobre, salientando que, em 2002, “tínhamos 14 funcionários no quadro, mais 13 trabalhadores eventuais em permanência. Neste momento temos nove funcionários nos espaços verdes e dois deles estão com situações de saúde complicadas”. O vereador lembrou que “no ano passado, estávamos a conseguir fazer uma recuperação maior nos espaços verdes na cidade”, indo ao encontro das necessidades essenciais. Mas, perante a situação atual de falta de recursos, “não tem sido humanamente possível”. No que toca à Quinta das Pratas, “era um equipamento que estava fechado ao público” e “há que dar prioridades ao que nos é pedido”, como escolas, por exemplo, explicou Pedro Nobre.
Mas não seria possível planear e antecipar os problemas? Por exemplo, quando é feita a limpeza de um espaço e o corte da relva, em vez de se fazerem montes, que por lá ficam, às vezes, dias, não seria mais fácil levar de imediato? Ou começar num local e acabar o trabalho, antes de seguir para outro local?
O problema não é só da Câmara Municipal. O Parque de Santa Eulália, inaugurado em 2005 e apresentado, na altura, como o pulmão verde da cidade, é dos locais que se encontram mais desprezados, no que à manutenção diz respeito, cabendo, neste caso, os trabalhos à Junta de Freguesia da União de Freguesias do Cartaxo e Vale da Pinta, que lhe foram delegados no âmbito do contrato interadministrativo de delegação de competências. O local, bastante aprazível, encontra-se muito semelhante a um matagal. Embora os caminhos estejam desimpedidos, as ervas ao seu redor escondem o comum dos mortais, tal a sua altura. Como consequência, os bancos existentes estão rodeados de ervas, não podendo ser usados em segurança por ninguém.
Um espaço que “ainda está fechado por despacho do presidente da Câmara, tal como os parques infantis. Os portões [do parque de Santa Eulália] estão abertos porque as pessoas forçaram a entrada”, explicou Délio Pereira, presidente da Junta de Freguesia, ao Jornal de Cá.
Não obstante, “já iniciámos lá a limpeza, mas temos andado a fazer a limpeza das zonas que já não são nossas. Em princípio, para a semana [segunda de julho], já vamos lá ‘assentar arraiais’. Até agosto fica bonitinho! O trabalho mais rigoroso que lá tem é a limpeza das árvores. Há árvores muito velhas, com troncos secos e doentes e temos de fazer essa limpeza aos ramos para que elas ganhem saúde”, adiantou.
Mas as culpas não se ficam pelos poderes autárquicos. Pela cidade, muitos são os espaços privados em igual estado de desmazelo. Os espaços ajardinados na Urbanização de Santa Eulália, junto ao parque, são apenas um desses exemplos. Um espaço que “não é da nossa responsabilidade. Havia ervas que chegavam aos estendais e, por acaso, fomos nós que os lá fomos cortar”. Apesar de esta não ser responsabilidade direta da Junta, “decorre da lei que a Junta tem o dever de intervir nos espaços públicos da freguesia. Qualquer coisa que a Junta faça na sua freguesia está fundamentada na lei. Estou a fazer o trabalho de um autarca do município”, esclareceu Délio Pereira.
É público que a Câmara Municipal tem estado a proceder à notificação dos proprietários para que limpem os terrenos. No entanto, tal não tem tido grandes resultados, pelo menos, na cidade, como é fácil de constatar por todos.
Andando pela cidade, encontramos diversos panoramas e nem tudo é mau. Há espaços limpos, outros assim-assim e outros ainda completamente tomados pelo mato.
O Parque da Música é um dos bons exemplos de espaços verdes arranjados. A intervenção foi feita há pouco tempo e, apesar de alguns atos de vandalismo que por lá vão acontecendo, é bastante aprazível passar por lá um bocado. A relva está cortada e os espaços limpos e arranjados.
Já o jardim central, perto da Câmara Municipal e nas imediações do renovado Lago dos Patos, que esteve bastante apresentável até há bem pouco tempo, já se encontra povoado de ervas e plantas invasoras.
E a Quinta das Correias? Um verdadeiro matagal, sobretudo nos lotes que ficaram por urbanizar e os passeios cheios de ervas que crescem livremente entre as lajes.
Aos privados proprietários de terrenos, que não limpam e contribuem para a má imagem da cidade, é obrigatório juntar todos nós, enquanto comunidade. É verdade que os espaços verdes cuidados são um regalo para os olhos. Mas o nosso contentamento não se pode ficar por aí. Também nós, cidadãos, temos o dever de cuidar do espaço público e isso implica, por exemplo, não deitar lixo no chão ou não colocar resíduos juntos aos contentores ou aos (poucos) ecopontos existentes.
Por isso, atrevemo-nos a dizer que a culpa é nossa, da comunidade. Viver em comunidade também é respeitar e cuidar do espaço que é de todos. E exigir.