De 30 de abril a 5 de maio, o vinho e o pão são os anfitriões da 31ª Festa do Vinho do Cartaxo, a decorrer no pavilhão municipal de exposições, mas também nas ruas e na praça de touros a marcar a tradição de 1 de maio
Vinho e Pão nasceram nos campos, foram criados pelo engenho de homens e mulheres que souberam transformar a natureza usando dois processos ancestrais e quase mágicos – fermentar e levedar. Dois processos que elevaram produtos humildes à excelência de sabores e aromas reconhecidos mundialmente. Vinho e Pão são portadores de memórias pessoais, de histórias familiares, de encontros de amigos e de gerações, de identidade de territórios, estão presentes nos momentos de união e de partilha, e nos momentos de festa ergue-se o vinho e partilha-se o pão. É esta a Festa que o Cartaxo oferece, já a partir do dia 30 de abril e que decorre até 5 de maio, no pavilhão municipal de exposições.
Aqui, durante seis dias, os produtores, as casas agrícolas, os padeiros modernos e as padarias tradicionais, vão estar lado a lado para harmonizar dois produtos que fixaram raízes profundas na história da gastronomia nacional. No palco da Festa já há presenças confirmadas, com The Pilinha a encerrar o dia 30 de abril; no dia 1 de maio sobem ao palco os fadistas da terra com o espetáculo ‘Há Fados no Cartaxo’; no dia 2 será o Ballet do Ateneu Artístico Cartaxense a fazer as honras da casa; no dia 3, o DJ Vassalo vai ser protagonista da River Night Party e no dia seguinte o palco será dos One Vision – Tributo a Queen. Na última tarde da Festa do Vinho e Pão é a Orquestra da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta a subir ao palco.
Nas ruas da cidade, vão desfilar campinos, cavaleiros e amazonas, o Fandango do Ribatejo vai ter espaço de honra no Festival de Folclore e, na Praça de Touros, vai cumprir-se a tradição tauromáquica, no dia 1 de maio, com a Corrida do Tomate.
Novidades na Festa do Vinho & Pão
A Festa do Vinho e Pão conta já com mais de uma dezena de casas agrícolas e produtores com espaço reservado para venda e provas de vinho. A exemplo de edições anteriores, as principais instituições nacionais do setor vão estar presentes e entre os parceiros contam-se as principais marcas e produtores da região. Em 2019 espera-se o reforço da presença de empresas do setor e o espaço para provas de vinho e apresentação das marcas vai continuar a ser ponto de encontro com o público – seis produtores já reservaram a sua presença neste espaço.
No espaço de showcooking (cozinha ao vivo), profissionais do setor e instituições de ensino, enólogos e chefes, vão estar juntos na harmonização de vinhos e iguarias, na partilha de conhecimento e de segredos para desfrutar do melhor que os vinhos e a gastronomia têm para oferecer. Como sempre, a participação é gratuita, basta passar pelo espaço à hora marcada. Antes da divulgação integral do programa, o que se pode adiantar, é que a Escola Profissional do Vale do Tejo vai continuar a dinamizar este espaço.
Nas tasquinhas, as associações e coletividades continuam a ser as responsáveis por dar a conhecer o melhor da gastronomia tradicional, sempre a harmonizar com os vinhos do concelho. Uma das novidades deste ano é a aposta da organização na ajuda às largas dezenas de voluntários que trabalham durante os seis dias da Festa – a Câmara Municipal estabeleceu uma parceria com o Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar (CFPSA) e, no dia 23 de abril, todos os voluntários vão poder participar numa ação de formação sobre higiene e segurança alimentar.
Pão acompanha o vinho
Este ano, a novidade da Festa do Vinho do Cartaxo é o pão. Sabe-se já que o pavilhão municipal de exposições vai ter um espaço especial, dedicado à mostra e comercialização de Pão; o espaço infantil vai ser uma fantástica surpresa para os mais pequenos com muitos pães quentinhos a sair; quem quiser descobrir segredos para fazer pão fofinho ou conhecer as novas tendências vai ter à sua disposição uma padaria verdadeira toda equipada para amassar, fermentar e ver crescer pães tostadinhos e não vão faltar oportunidades para meter a mão na massa.
Já na apresentação da Festa do Vinho e do Pão na Bolsa de Turismo de Lisboa, o Rancho Folclórico de Pontével, convidado a representar o concelho naquela mostra nacional, apresentou um quadro vivo com a fazedura do pão, tal como era feito antigamente. Enquanto as moças vestidas com o rigor de outros tempos tratavam da massa, Mário Silva contava todo o ritual do pão às pessoas que ali se concentraram e que, no final puderam provar o pão, as caspiadas e, claro está, o vinho.
Mário Silva, do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Pontével, começou por contar a história das caspiadas (doce regional de Pontével) que está intimamente ligada ao pão. “Nos tempo dos nossos antepassados quando se cozia o pão, ao domingo, para toda a semana, à massa que restava no alguidar juntava-se açúcar louro, canela, raspa de limão e azeite” que, depois de amassada e tendida, era colocada em cima de uma folha de couve para ir ao forno. “Era um bolinho que era dado aos netos ao domingo”.
Mas voltemos ao pão. As mulheres, com traje de trabalho, usavam um avental para amassar o pão, feito a partir das sacas de enxofre, depois de bem lavados e branquinhos, evidenciando o asseio na fazedura do pão e o aproveitamento dos materiais usados. Da cozedura da semana anterior, guardava-se um pouco de massa, que serve de fermento para a massa levedar, para acrescentar à farinha que se vai amassar e, aos poucos, vai-se acrescentando água morna com sal e trabalhando a massa num recipiente de barro, durante cerca de uma hora. Depois, para a massa levedar, tapava-se bem e abafava-se a massa com uma manta ou cobertor e deixava-se estar. “Entretanto, era tempo de acender o forno, com vides das videiras”. Segundo contou o pontevelense, que em pequeno assistia ao ritual da sua avó, “depois das podas nas vinhas, faziam-se molhos de vides que haviam de dar para cozer o pão, durante todo o ano”.
Mário Silva, recordou no seu relato que “isto era durante a manhã inteira de domingo. Quando a massa estava já tenra, estava pronta a levedar”. Depois de a massa estar terminada mete-se farinha e faz-se uma marca no alguidar, para saber quando está levedada e levar ao forno. “E fazia-se também uma reza: Deus te aleve a tempo e a horas, Deus te acrescente livre da má gente; Deus te aleve a tempo e a horas, Deus te acrescente livre da má gente”. Para finalizar, falta estender a massa, tendê-la e prepará-la para ir para o forno. “O pão estava muito guloso e só se partia à mão, não se cortava com a faca pois, dizia a lenda, tirava-se a força a quem amassava”, contou Mário Silva, recordando as rabecas, os pãezinhos que as avós faziam para os mais pequenos comerem ao domingo, ainda quentinho, com açúcar louro. Para os adultos, com os nacos de pão ainda quentes esfregava-se o alho e besuntavam-se de azeite e sal.