Cartaxo, uma cidade sem história?

Bagos da memóriapor Pedro Gaurim

Na opinião geral, o Cartaxo não tem História e é uma terra recente. Diversos motivos contribuem para isso: não há grandes monumentos, nenhum evento da história nacional ocorreu aqui; não há arquitectura aristocrática nas suas ruas; no contexto português, é um concelho recente, com 206 anos. Infelizmente, os arquivos locais sofreram destruições: o da paróquia foi destruído na terceira invasão francesa em 1811; quase todo o arquivo municipal ardeu no incêndio da Câmara em 1970. Estes factos acrescentam dificuldades à pesquisa histórica mas não apagam a História.

No entanto, o Cartaxo tem muita História, e esta não se faz apenas sobre épocas muito recuadas, aspecto que foi consagrado durante muito tempo. É preciso entender que a História local e a micro História não se faz apenas com fontes de informação locais, e por isso é possível recorrer a outros arquivos para obter informação; como também não se faz apenas por profissionais e que noutros países da Europa, a pesquisa Histórica é um ocupação apaixonante e saudável para a actividade cognitiva, especialmente numa fase avançada da vida, em que se dispõe de tempo, contribui para a realização pessoal e muitos tornam-se historiadores amadores, desenvolvendo as suas pesquisas em bibliotecas e arquivos perto de casa, e os seus contributos são preciosos no processo da conservação da memória. Neste âmbito tenho de evocar o Sr. António Araújo, que além de ter sido o mais entusiasta promotor do monumento a Marcelino Mesquita, criou a revista O Cartaxo, “livro de cabeceira” dos historiadores do Cartaxo, publicada entre as décadas de 1960 e 1990, tendo sido pioneiro da micro história desta cidade.

Outro aspecto importante a ter em conta, é o tipo de história que se pode fazer e dou alguns exemplos de temas sobre o Cartaxo que ou não foram estudados ou merecem ser desenvolvidos: na História da Arte, o cruzeiro manuelino; na História religiosa, o antigo convento do Espírito Santo do Cartaxo, fundado no âmbito das reformas franciscanas; na História Política, a relação do Cartaxo com a Câmara de Santarém até 1815; os administradores do concelho, depois presidentes de câmara, as suas nomeações e iniciativas; na História Social, os protagonistas da produção, armazenamento e distribuição de vinho, de onde vieram, como começaram, como se organizavam; os antigos cartórios notariais do Cartaxo; na História das Instituições, o Ateneu, a Filarmónica, a Casa do Povo, etc. Mas há também a História Genealógica e Familiar, as biografias de personalidades locais, etc.

Com este artigo inaugural de uma nova rúbrica, desejo ter suscitado o interesse de algum leitor nestas lides, e estou disponível para o ajudar a sua carreira de historiador iniciante, se desejar contactar-me.


O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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*Artigo publicado na edição de março do Jornal de Cá.

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