Em breve, a cidade do Cartaxo terá um serviço de recolha seletiva de resíduos porta a porta. Uma mudança de paradigma que vai alterar os hábitos dos cartaxeiros com o objetivo de pôr toda a gente a reciclar, pela sustentabilidade do planeta
O Cartaxo vai fazer parte de um projeto piloto de recolha seletiva de resíduos porta a porta, resultado da aposta da Ecolezíria, empresa intermunicipal responsável pelo tratamento de resíduos sólidos nos municípios do Cartaxo, Almeirim, Alpiarça, Benavente, Chamusca, Coruche e Salvaterra de Magos, em parceria com a Associação Zero, no sentido de cumprir as metas europeias para a reutilização e a reciclagem (de 55 por cento do total dos resíduos urbanos em 2025 e de 65 por cento em 2035), estando em causa a sustentabilidade do planeta.
Quando os aterros sanitários não são a solução e os números de 2017 revelam que nestes seis municípios a percentagem de resíduos reciclados é de apenas 18 por cento, há que tomar medidas urgentes para levar a população a reciclar mais, visto que, segundo a Zero, “75 por cento dos resíduos que produzimos nas nossas casas são recicláveis”. Posto isto, “há que mudar a nossa forma de ver a reciclagem”, disse a engenheira ambiental da Ecolezíria,Vera Nunes, que apresentou o projeto piloto no passado dia 16 de maio no auditório da Quinta das Pratas, em conjunto com Paulo Lucas da Zero, numa mesa presidida pelo presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Ribeiro, que se fez acompanhar do presidente da União de Freguesias Cartaxo e Vale da Pinta, Délio Pereira, tendo em conta que este projeto se inicia na cidade do Cartaxo.
“A recolha porta a porta é a solução para mudarmos as nossas formas de reciclar e aumentarmos a reciclagem”, afirma Vera Nunes, que aponta o arranque do projeto para o início de 2020. Ainda com algumas questões do projeto a serem afinadas, espera-se que durante este mês de junho e o próximo mês de julho sejam feitas “ações de sensibilização porta a porta, que próximo do final do ano serão repetidas, com grupos de jovens que vão estar nos seis concelhos, por equipas, para informar as pessoas deste projeto”, porque “precisamos todos de participar e estar do mesmo lado”, sendo estas sessões também importantes para receber contributos da população, no sentido de se obter um maior sucesso na implementação do projeto. “Pretendemos com esta sessões participativas ouvir as pessoas, pois sem a participação das pessoas não é possível ter sucesso nestes projetos, porque implica uma alteração de comportamentos muito significativa. E a ideia é ouvir também os contributos das pessoas”, reforça Paulo Lucas da Zero.
Por dia, cada habitante do concelho produz mais de um quilo de lixo
A 5 de julho, a Câmara Municipal informa que estas ações de sensibilização se iniciam já na próxima semana, a partir do dia 9 de julho. Pedro Nobre, vereador da Câmara Municipal responsável pelo pelouro da Recolha de Resíduos, explica que “um grupo de jovens voluntários da Zero, entidade que colabora com a Ecolezíria neste projeto, vai estar na cidade do Cartaxo a partir do dia 9 de julho, para distribuir aos munícipes um folheto com informação sobre o novo modelo de recolha de resíduos recicláveis e prestar esclarecimentos sobre a implementação do projeto. Esta fase da campanha de divulgação vai decorrer durante cinco dias” e abrange todos os municípios que integram o novo modelo.
É urgente mudar hábitos
A produção de resíduos nos seis municípios da Ecolezíria, em 2017, foi de 56.647 toneladas e em 2018 terá sido idêntico. Os números indicam ainda que, no total dos resíduos urbanos, “cerca de 25 por cento são embalagens (cartão e plástico) e o que encontramos nos ecopontos da Ecolezíria são apenas 18 por cento”, diz Paulo Lucas. E tudo isto traz custos, não só ambientais, mas também custos financeiros para os municípios no tratamento dos lixos indiferenciados.
“A Câmara do Cartaxo gasta perto de 860 mil euros em resíduos e tem proveitos que não chegam aos 250 mil euros, o que significa que, por ano, a nossa área de resíduos tenha um défice estimado à volta dos 615 mil euros”, avança Pedro Ribeiro, lembrando que, “no estado em que está a nossa terra”, este valor poderia ser aplicado noutras necessidades.
Por ano, o Município do Cartaxo, com menos de 25 mil habitantes, produz 10.500 toneladas de lixo, 30 toneladas por dia. “Cada um de nós, em média, produz mais de um quilo de lixo por dia” e, no meio disto tudo, diz ainda o presidente da Câmara do Cartaxo, “são baixos os níveis de reciclagem da Ecolezíria”, reconhecendo que “não temos funcionado muito bem nesta área”. Como tal, considera que chegámos ao sistema porta a porta pela “necessidade de sermos mais eficientes naquilo que tem a ver com os sistemas de recolha dos nossos resíduos que, naturalmente, por si não chega, temos que também sensibilizar os nossos concidadãos a gerir melhor o seu lixo”.
De acordo com Paulo Lucas, “a separação [do lixo] tem de ser incrementada no interior das habitações. Há muitas pessoas que ainda não separam o lixo e nós temos que mudar isso rapidamente”. Daí que, numa primeira fase, o processo de seleção seja facilitado com a oferta de contentores e sacos ecológicos e até vales de desconto para quem aderir e reciclar mais, em bens e serviços que possam ser adquiridos no comércio local e, num futuro próximo, “a implementação de tarifas variáveis que resultem do cálculo do peso e do volume de resíduos depositados pelos utilizadores domésticos”.
A Ecolezíria vai oferecer contentores para que as pessoas acomodem os orgânicos e também sacos codificados para o papel (azul), plásticos e metais (amarelos) e orgânicos (castanho). Nesta fase, vão manter-se os contentores de vidro na via pública. Ou seja, os cidadãos devem continuar a despejar o vidro no vidrão, até ver.
75% dos resíduos que produzimos nas nossas casas são recicláveis
Tal como já acontece noutros municípios do País, os resíduos recicláveis e orgânicos vão ser recolhidos à porta de casa, em dias definidos, tendo as pessoas que colocar o saco devidamente atado à porta no dia predefinido para a recolha, que deverá ocorrer sempre durante a noite, para que às 8h não existam sacos na rua.
Os códigos nos sacos vão servir, segundo a Zero, não para fiscalizar o lixo das pessoas, mas porque “numa primeira fase nós temos necessidade de monitorizar este processo. Cada casa vai ter um código próprio que depois será lido durante a recolha, através de um leitor que o pessoal de recolha terá no braço para facilitar o processo. A ideia é termos informação em tempo real de como é que as coisas estão a correr”.
Aposta na compostagem
Para além da aposta na reciclagem, este projeto pretende ainda promover a compostagem doméstica, por isso a Ecolezíria vai distribuir 7.500 compostores por todos os municípios, em moradias com espaço exterior, e não será feita só nas áreas onde vai ser feita a recolha porta a porta. “É uma forma de fazer com que estes resíduos não entrem no circuito da recolha e entrem em processo de compostagem, sendo aproveitados”, nomeadamente enquanto fertilizantes orgânicos dos solos. Para tal, explica ainda o ambientalista, que considera esta “uma das componentes mais importantes dos resíduos urbanos”, “as pessoas vão ter formação em casa e ter um acompanhamento de modo a não desistirem do processo e para que este tenha sucesso”.
Com esta aposta, “a ideia é criar uma central de compostagem com uma capacidade para tratar 10 mil toneladas de resíduos orgânicos, podendo vir a ser superior, e também a instalação de uma central de triagem, numa lógica de reposicionar estrategicamente a empresa para que no futuro se transforme numa das empresas intermunicipais que mais contribui para a reciclagem dos seus resíduos”.
Importa reduzir a quantidade de lixo indiferenciado e, como tal, reutilizar ou reciclar todos os resíduos que produzimos em casa e que permitam a sua transformação e valorização. Questões caras a quem assistiu à apresentação do projeto no Cartaxo, num sessão participada, ainda que a sala não estivesse lotada. Dos presentes, entre os quais vários jovens e representantes de associações ligadas à sustentabilidade e ecologia (Eco-Cartaxo e Free to be), houve várias questões a apontar assim como algumas dúvidas, nomeadamente sobre o facto de serem distribuídos sacos de plástico, quando o plástico é um dos maiores inimigos do ambiente; mas também sobre a injustiça que poderá ser sentida pelos habitantes do concelho que não são abrangidos pelo projeto, mas que fazem reciclagem, ao verem outros munícipes serem premiados por também separarem o lixo em casa, sem terem que se deslocar ao ecoponto. A estas duas questões, Paulo Lucas defendeu-se com a urgência que há em criar nas pessoas o hábito de reciclar, sendo a oferta de sacos e os “prémios” uma forma de incentivo e de facilitar o processo.
Outra questão referida foi que, durante as ações de sensibilização, para além das questões da sustentabilidade do planeta, as pessoas sejam confrontadas com os custos da gestão do lixo e com o que se pode ganhar com a separação dos resíduos sólidos urbanos. Como disse uma das intervenientes, devemos “lembrar as pessoas que os resíduos que produzimos são responsabilidade nossa”.
Mais de 20 mil alojamentos abrangidos
No total, cerca de 40 mil pessoas vão ter recolha porta a porta e colaborar ativamente na reciclagem, no âmbito de dois projetos cofinanciados pelo Programa Operacional para a Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR), com vista a avançar com a implementação da recolha seletiva porta a porta em 21 mil alojamentos nos municípios de Almeirim, Alpiarça, Benavente, Cartaxo, Coruche e Salvaterra de Magos, a qual incluirá também a recolha de orgânicos em 14 mil alojamentos dos municípios de Almeirim, Cartaxo, Coruche e Salvaterra de Magos, estando a associação Zero a colaborar na componente de sensibilização e divulgação do projeto.
Cerca de 40 mil pessoas vão ter recolha porta a porta e colaborar ativamente na reciclagem
Tendo em conta as metas definidas pela União Europeia, a Ecolezíria quer “recuperar a sua autonomia em relação ao tratamento – depois da selagem do aterro que geria – dirigindo a sua atenção essencialmente para a recolha seletiva para que esta atinja níveis superiores aos previstos nas metas estabelecidas”.
No futuro, depois de implementado este novo sistema de recolha seletiva de resíduos nas sedes de concelho destes seis municípios, o projeto deverá ser estendido às restantes freguesias e, aos poucos, deixaremos de ver os velhos e gastos ecopontos que se encontram espalhados pelas ruas, o que diminuirá também a poluição visual das vilas e cidades. Mantêm-se os contentores de lixo indiferenciado que, esperemos, venham ser utilizados com menos frequência pela população que, depois de separar devidamente o lixo em casa, vai demorar mais tempos a encher o balde do lixo doméstico.