Casa de habitação e armazém de vinhos de Joaquim Jacinto Ferreira

Memórias do Cartaxo, por Telmo Monteiro
Na Avenida Mestre Cid no Cartaxo, destaca-se a casa de habitação da família do empresário de vinhos Joaquim Jacinto Ferreira e o seu armazém, do outro lado da avenida. Edifícios emblemáticos em Arte Nova que são testemunho de um tempo onde a arquitetura embelezava a vila e o vinho dinamizava a sua economia.

Joaquim Jacinto Ferreira, na sua juventude trabalhou para a empresa de exportação de vinhos de um outro grande empresário agrícola do Cartaxo, José Duarte Lima, onde terá aprendido a negociar no ramo. Chegado o momento de se lançar em nome próprio, encomendou ao mestre de obras Júlio Augusto Marques o projeto para a sua casa e armazém, os quais viriam a ser construídos pelo próprio em colaboração com o também mestre de obras Francisco Augusto Pêgo. Ambos os edifícios viriam a ser inaugurados, ao que consta, em 1917.

Empresa de armazenamento de vinhos e aguardentes, tinha uma caldeira de destilação e ainda um lagar de azeite que funcionava num outro edifício que já não existe. O negócio teve muito sucesso, abastecendo principalmente Lisboa e o Alentejo, permitindo a este empresário tornar-se um dos homens mais abastados do Cartaxo na época. Posteriormente, chegados à idade adulta, os três filhos nascidos do casamento de Joaquim Jacinto Ferreira com Júlia de Jesus Barrela, começaram a trabalhar com o pai, pelo que a empresa passou a denominar-se “Joaquim Jacinto Ferreira e Filhos, Lda”.


Joaquim Jacinto Ferreira viria a falecer em 1954 e a sua empresa não terá sobrevivido muitos mais tempo a cargo dos filhos.

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Posteriormente, em 1968 a casa de habitação da família deste empresário viria a ter uma “segunda vida”, com a inauguração nesse edifício do Jardim de Infância do Cartaxo, e onde se encontrava a sigla “JJF”, passou a figurar “JI”, infelizmente, passados cerca de 15 anos, o Jardim de Infância passou para novas instalações e desde aí este edifício de beleza estética inegável, ficou inutilizado e deu início a um triste processo de degradação. (foto seguinte* Edifício na década de 80 do século XX, Espólio do JIC)

Felizmente, o mesmo não aconteceu com o edifício do armazém, o qual, após ter albergado outras empresas do ramo dos vinhos na década de 1980, seria restaurado e remodelado na década seguinte, respeitando a traça exterior original, para dar lugar a um hipermercado. Uma segunda (ou terceira) vida de sucesso, tornando-se um animado polo da vida da cidade.

As plantas, desenhadas pela mão de Júlio Augusto Marques e que ilustram este artigo também sobreviveram, são parte do valioso espólio de plantas arquitetónicas da sua autoria ou de obras onde ele trabalhou.

Para finalizar, uma estória relacionada o tema deste artigo, a qual carece de confirmação e de mais detalhes, mas ao que consta, Joaquim Jacinto Ferreira terá ficado tão agradado com o resultado final da construção dos edifícios, que ofereceu aos construtores um automóvel como prémio pelo trabalho executado, algo raro naquela época na vila do Cartaxo. Esse automóvel daria origem a diversas peripécias de cariz cómico que se tornaram em anedotas que circularam na época pela terra, dado os presenteados não saberem conduzir tão precioso presente.



*Plantas do espólio de Júlio Augusto Marques, cedidas para digitalização por Maria Eulália Marques

*fotos do Edifício, na década de 80 do século XX, Espólio do JIC

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