Um destes dias desabafei com um colega meu que «noto que a juventude actualmente interessa-se muito pouco, ou mesmo nada, por política», ao que aquele retorquiu: «Assim é: agora mobilizam-se mais por causas e menos por ideologias». Concordo!
As pessoas estão saturadas das tricas partidárias, dos rabos-de-palha dos dirigentes, dos “boys”, da corrupção entre políticos, autarcas, directores gerais, banqueiros, bancários, advogados, médicos, farmacêuticos, engenheiros, funcionários administrativos, etc. Os jovens, em particular, denotam uma grande descrença em relação ao futuro: o elevado desemprego, os contratos a prazo sem fim à vista e os baixos salários são preocupações permanentes.
De facto, nos actos eleitorais a abstenção tem aumentado e as filiações partidárias têm diminuído mas, em compensação, vimos assistindo a movimentos populares massivos e bem-sucedidos de adesão a causas sociais (as campanhas de solidariedade para com Timor Leste, as campanhas do banco alimentar contra a fome, etc).
Governabilidade
Do meu ponto de vista, os partidos tradicionais do arco da governação (PS-PSD-CDS) não têm sabido regenerar-se nem dar resposta eficaz àquilo que as pessoas aspiram. Estão, deste modo, a dar azo ao abstencionismo e a movimentos tipo “Podemos”, “Ciudadanos”, “Geração Rasca”, etc., pondo em causa a governabilidade do País.
Veremos o que nos reserva o futuro, mas esta paz podre em que vivemos não nos leva a lado nenhum. Senão vejamos: a banalização das greves políticas e da ditadura dos piquetes de greve; os tempos de antena desmesurados de algumas organizações, muito para além da sua representatividade; as audições parlamentares repetitivas, para exclusiva chicana politica e/ou protagonismo de alguns, poucos.
Entretanto o fundamental não se discute, designadamente como resolver: a dívida pública astronómica como um factor de injustiça geracional, dado que que o sacrifício do pagamento do capital e dos juros em dívida irá caber às gerações futuras; o desemprego, a corrupção, a impunidade e o aumento das desigualdades; a falta de consenso político em questões como educação, saúde e justiça.
As tão apregoadas e adiadas reformas estruturais são indispensáveis … as conversas da treta é que dispensamos!