Chamem a polícia!

Três assaltos a estabelecimentos no centro do Cartaxo vieram trazer para a primeira linha do debate a questão da segurança na cidade. Em conversa com cidadãos é possível perceber que “há algum receio” pelo que possa vir a acontecer nos próximos tempos

Tudo começou com o assalto à Drogaria Howell Guedes, na madrugada de 19 de dezembro. Da conhecida loja, em vésperas de natal, “voaram” os melhores artigos de alta perfumarria. No espaço de um mês, mais dois estabelecimentos foram assaltados, a boutique “Carmi”, na rua Luís de Camões, e a loja “Marias e Migueis”, na Batalhoz. Até ao final do mês registaram-se ainda assaltos a três empresas na Zona Industrial do Cartaxo e a uma moradia na Quinta das Correias, esta em plena luz do dia.
Apesar destes acontecimentos ninguém, sobretudo entre os lojistas por nós contactados, aponta responsabilidades ao trabalho da Polícia de Segurança Pública (PSP). “Estas pessoas sabem o que andam a fazer” diz Fernando Felício que viu, em 2004, o seu estabelecimento “Modas Felício”, ser assaltado. Para corroborar as suas palavras o comerciante revela um pormenor curioso. “No dia em que fui assaltado a PSP esteve duas horas na rua em frente à minha loja, com um carro avariado. Mal o carro foi tirado de lá, e a Polícia foi embora, deu-se o assalto. Os indivíduos estiveram à espera do momento certo. Isto quer dizer que só se tivéssemos um polícia em cada porta, a toda a hora, é que se podia evitar estas coisas”.
Margarida Felício diz, no entanto, que sente insegurança atualmente. “Sobretudo quando venho às 10 da noite fechar os estores da loja. Mas isso também se deve ao fato de atualmente a rua estar deserta. Há dias em que tenho algum medo de estar aqui sozinha”, confessa.
A mesma insegurança sente Maria Carmo Alves proprietária da loja “Carmi”, na Rua Luís de Camões, assaltada na madrugada do dia 13 de Janeiro. Tal como no assalto à drogaria Guedes, os produtos furtados eram de marcas de renome e o montante do roubo foi avultado. “Todos os dias vou para a casa com muito receio do que possa acontecer. Saio daqui aflita” diz a comerciante. Embora também garanta “não apontar o dedo a ninguém”, a lojista não deixa de dizer que alguém tem de fazer alguma coisa. “Se nada for feito para nos devolver confiança já pensei deixar o negócio. Assim não me sinto nada protegida. Tenho força para continuar mas fiquei muito desanimada, e olhe que eu não sou de desanimar”, frisa. Enquanto aguarda pelo pagamento do seguro, Maria do Carmo Alves estuda que medidas de segurança pode adotar. “Talvez ponha alarmes, embora ache que eles quando querem fazer as coisas não é o alarme que os impede. O que me custaria muito era ter de por grades nas montras. Gosto de ter uma montra bonita, com coisas que as clientes gostem de ver mas começa a ser difícil”.
Entretanto, na Rua Batalhoz, dois serralheiros trabalham na reparação da porta da “Marias e Miguéis”, a loja de roupa de criança assaltada a 30 de janeiro. Romana e Miguel Cruz, os proprietários também não escondem a desolação por se terem visto sem o material em que investiram e que apostavam ia fazer sucesso. Também aqui a escolha foi cirúrgica. “Só levaram peças de marcas de referência. Só levaram o que havia de melhor na loja. Sabiam muito bem o que queriam”, diz Romana Cruz. O marido, Miguel Cruz, mostra preocupação com a falta de iluminação da rua e com o facto de esta ainda poder vir a ser reduzida, mas está de acordo com a opinião geral que tira qualquer responsabilidade à atuação da polícia. “O que há aqui a fazer é juntar esforços entre o município, as forças de segurança e a própria população de forma a prevenir este tipo de atos”, diz Miguel Cruz que garante que, apesar do esforço enorme que lhes é exigido, vão continuar a apostar no negócio.
Perante estes fatos, o Jornal de Cá contatou a PSP do Cartaxo que nos remeteu para o Comando distrital, em Santarém. A Superintendente Paula Peneda, a quem pedimos um comentário sobre esta matéria, rejeita que exista “uma vaga de assaltos”. Afirmando ter “conhecimento da criminalidade ocorrida na cidade do Cartaxo”, a comandante distrital da PSP afirma que “as ocorrências pontuais registadas entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015 estão devidamente documentadas e em fase de investigação por esta Polícia”.
Quisemos igualmente saber a posição do município. Pedro Ribeiro manifestou “preocupação com estes fenómenos” que, lembrou, “não acontecem apenas no Cartaxo, mas também a nível distrital e nacional. Para o presidente da câmara municipal, “numa altura de asfixia económica e financeira é de esperar um crescimento deste tipo de criminalidade”. O autarca aproveitou para manifestar a “sua solidariedade com as vítimas desta vaga de assaltos” e para informar que já solicitou à tutela uma reunião de forma a “alertar para as necessidades de reforço dos meios da GNR não só no que diz respeito a recursos humanos como meios de transportes e manutenção”. Como nota final, Pedro Ribeiro fez questão de “reconhecer publicamente o trabalho desenvolvido pelas autoridades de segurança do concelho, GNR e PSP, mas a questão da falta de meios está sempre presente embora saibamos que não é possível ter um agente em cada esquina”, conclui.
Vaga de assaltos ou simples fenómeno de criminalidade pontual sem continuidade, o certo é que, dada a proximidade temporal entre eles, estes assaltos já fizeram disparar um primeiro sinal de alarme entre a população, com os comerciantes à cabeça. Um comerciante que, por razões de segurança, preferiu não ser identificado, confessou-nos “estar à espera de ver o que vai ser feito ou se estas situações vão parar por agora. A verdade é que as pessoas entram nas lojas e comentam isto com indignação. Já começa a haver um sentimento de revolta nas pessoas e isso não é bom”, remata.

Luís Rosa-Mendes

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