Cohousing a “república” dos velhos

Opinião de Raquel Marques Rodrigues

Já pensou qual é um dos sonhos de qualquer adolescente? Viver bem, perto dos seus amigos. Pois bem, envelhecer junto deles é um privilégio e uma excelente alternativa para manter a vida social. Tendo em conta o crescente ritmo do envelhecimento populacional, estas pessoas são a prioridade para quem não lhes quer roubar a liberdade e a independência.

Isolamento, dificuldades económicas e falta de apoio familiar conduzem Portugal a dar os primeiros passos neste projeto cohousing – habitação colaborativa sénior. Sabe do que se trata e como funciona? Vivem no mesmo apartamento, dividem despesas, tem regras em comum, serviços partilhados e criam uma comunidade como fosse uma família.

Viver na solidão não é opção para muitos deles, viver na casa dos filhos ou recorrer à institucionalização será o último recurso, por isso, viver de forma livre, autonomamente e com dignidade é uma solução viável nos tempos que se avizinham para pessoas com mais idade. E engane-se quem julgue que é uma república das bananas. Viver neste modelo é viver numa escola de democracia.

Muitos dos idosos vivem sozinhos em casas enormes, que um dia foram de famílias numerosas, com reformas insuficientes e com grandes despesas fixas que impedem que tenham uma vida ativa de qualidade. Beneficiando em grupo da partilha de espaço e despesas comuns, como internet, lavandaria e refeições em grupo, facilita não só o convívio, como maior bem-estar, com menos custos.

A ideia é ter casas ou apartamentos independentes (equipados com todos os serviços essenciais de uma habitação, com quartos, casa de banho, cozinha/kitchenette, zona de estar) e um espaço comum partilhado, com sala, cozinha, lavandaria e, eventualmente, quartos para convidados. Habitação comunitária para muitos idosos pode ser uma forma de poupar dinheiro e conviver. Este é o verdadeiro conceito de “república” para idosos.

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A ideia de habitação colaborativa surgiu na Dinamarca, em 1970, por Charles Durrett mas já está a dar os primeiros passos em Portugal. Embora sejam poucas as iniciativas conhecidas de cohousing no nosso país, há vários projetos a germinar. Ainda júnior, a habitação partilhada deu início em Águeda, fundada por uma instituição particular de solidariedade social, “Os pioneiros”, que, em 2012, criou uma “aldeia sénior”, hoje com 18 idosos, que vivem num aglomerado de pequenas casas, com o apoio de profissionais.

Contudo, se o cohousing vem “ampliar o leque de oferta habitacional” e contribuir para a “regeneração urbana e para a sustentabilidade ambiental”, ainda carece de enquadramento legal em Portugal. A nova política de habitação colaborativa para a terceira idade em Portugal destinada ao envelhecimento ativo deverá estar no terreno em 2020, após ser enquadrada na nova Lei de Bases da Habitação. Uma nova forma de habitação no nosso país que aponta que em poucos anos será uma forte realidade.

Na minha realidade profissional, num lar de idosos, a institucionalização cada vez é feita mais tarde e com pessoas mais dependentes e criar uma solução a longo prazo para idosos ativos é um desafio permanente, por isso uma resposta diferenciada que promova viver mais anos com vida é uma aposta a ser considerada por toda a sociedade. É essencial assegurar a criação de parcerias, financiamento e envolver autarquias.

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