Por Sónia Parente
Quando nos sentimos desconfortáveis, com ansiedade, sentimentos mais negativos e/ou um vazio emocional, os mecanismos de defesa psicológicos surgem na tentativa de aliviar o sofrimento que estamos a sentir, como forma de manter a saúde mental.
A compensação é um destes mecanismos de defesa, mas, como qualquer um deles, poderá ser eficaz ou ineficaz, dependendo da frequência com que é utilizado e do facto do processo ser consciente ou inconsciente.
Existem processos de compensação adaptativos e os destrutivos. Os adaptativos ajudam a melhorar o mal-estar e/ou a resolver a situação que o gerou, sem malefícios para o próprio. Os destrutivos, podem ajudar a melhorar o mal-estar momentaneamente, mas têm mais malefícios que benefícios para o próprio e podem até fazer com que a pessoa se sinta pior. Processos de compensação adaptativos poderão ser: um jovem que faz um maior investimento pessoal numa área em que tem melhor desempenho e assim um maior sucesso (por exemplo: desporto) para compensar outra área em que tem mais dificuldades (por exemplo: noutras disciplinas), como uma pessoa cega que apura outros sentidos, como o tato ou a audição. Outra compensação adaptativa pode ser uma pessoa que se sente triste e/ou com ansiedade e faz um processo de compensação praticando frequentemente desporto, como forma de aliviar a tristeza e a ansiedade.
Um processo de compensação destrutivo poderá ser: uma pessoa deixar de consumir uma substância de gratificação imediata (por exemplo: álcool ou tabaco) e compensar com o consumo de outra substância de gratificação imediata (por exemplo: comida ou drogas), somente substituindo a substância que costumava utilizar para se sentir melhor.
A compensação é um mecanismo de defesa que, se for eficaz, trará um maior bem-estar a curto, a médio e a longo prazo. Por outro lado, a compensação será um mecanismo de defesa ineficaz se trouxer bem-estar a curto prazo, mas a médio e longo prazo fomentar um circulo vicioso de mal-estar.
Muitas vezes, as compensações são inconscientes e, por isso, automáticas, e é importante torná-las conscientes para ter algum controlo sobre elas e não ser controlado por elas. Quanto mais o mesmo tipo de compensações foram utilizadas ao longo da vida como forma de alívio do mal-estar, mais facilmente se tornam automáticas e repetitivas, ou seja, tornam-se vícios (que podem ser bons ou maus).
O auto-conhecimento é a ferramenta principal para que as compensações não sejam automáticas, isto é, para perceber as razões que levam a procurar tal compensação. As questões a ter em conta são: o que se está a compensar? É uma compensação adaptativa ou destrutiva? É temporária ou muito frequente? Haverá outra forma mais saudável para colmatar o mal-estar ou vazio emocional?
Pode ser necessária ajuda de um profissional, um psicólogo que ajude a identificar essas compensações e a refletir acerca delas.
Sónia Parente é psicóloga clínica