Compilação de 6 anos de Crónicas

Crónica de José Caria Luís

Começou cedo, em janeiro de 2016, por isso já lá vão seis anos na divulgação de estórias e histórias que, de modo um tanto apaixonado, me propus oferecer aos leitores do Jornal de Cá. Através de uma larga série de crónicas alusivas ao modo como as nossas gentes viveram, com especial realce entre os já longínquos anos que mediaram as décadas de 50 e 70.

Desde as peripécias da Primária, a seleção da plêiade de alunos que haveria de frequentar o “Marcelino Mesquita”, o Liceu Sá da Bandeira ou a Escola I.C. de Santarém, seguindo-se as artes e ofícios para os que, menos prendados, ficaram de fora de tais benesses, tudo foi escalpelizado nestas páginas do Jornal de Cá. Como em tudo na vida, houve quem gostasse e aplaudisse, e os outros que nem tanto. Feedback era tudo o que eu almejava para cada estorieta publicada. Fosse em apoio, em alheamento ou reprovação, o que era preciso é que o autor soubesse como se reagia aos conteúdos publicados. Como alguém disse um dia: “dizer mal ou bem, tanto monta, o que é preciso é que falem”, por isso eu porfiava nessa senda. Isto, porque, hoje em dia, se diz mal de tudo e de todos, mais parecendo que o “eu”, o ego de cada qual se sobrepõe a todos os conceitos através de duvidosos preconceitos. 

Na última vez que fui ao Cartaxo, houve fulanos–rapazes da minha idade -, que me relembraram estórias dos tempos do “pé-descalço” passadas na, então, vila, e que, segundo eles, eu teria omitido nas crónicas por se tratar de casos de gente simples. Nem pensem! Nada mais falso. Se analisarem bem os textos, hão de convir que enaltecer ou subestimar estratos sociais nunca fizeram parte do meu modo de agir. E, para vosso sossego, aqui vai umas delas:

Tinha o Sr. Hélder, dono da Campesina, um Volvo dos anos 50, de cor preta, muito bem estimado, mas, também, muito cobiçado. Certa noite, um grupo de artistas da terra – cujos nomes ainda não se me varreram –, na ânsia de estrear o bólide, encetaram um tal golpe Volviano que, atendendo à época, ainda hoje faria inveja a esses bacanos que assaltam as viaturas Cartaxo adentro.  Do grupo, cujas idades rondavam os 16 anos, fazia parte o António José que, exibindo manhas de eletricista-auto, foi o operador na ligação direta do motor. Depois, já com a máquina a trabalhar, gerou-se a discussão para ver quem seria o privilegiado a quem confiar o volante. Como o ligador e o Simplício eram demasiado baixos, e o Vasco Calhalha, descalço e com frieiras nos pés, também não aprovou, só restavam os encorpados Fialho e o João Manuel. Este, o escolhido, arrancou, suavemente. O itinerário estabelecido, passava por ida e volta a Almoster. O Calhalha, tomando posição dominante, por ser o mais velho, refastelou-se no banco de trás, e de charuto na boca, impôs: – Eu é que sou o patrão! Porém, quando o carro descrevia a curva, à direita, a seguir ao Campo das Pratas, o Calhalha, não tendo ouvido o chiar dos pneus, ordenou: – Essa merda não chia? Força nisso!

E logo o motorista João deu gás ao Volvo. De tal modo que se esbardalhou contra uma oliveira e lá ficou encavalitado numa haste.

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Depois… fuga para casa, a penantes e em passo de corrida. Ao Volvo, restava repousar à espera do Sr. Hélder e do reboque da Asal, que só chegariam sol-alto.

*Artigo publicado na edição de janeiro do Jornal de Cá.

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