Convívio em passeio de bicicletas reúne memórias de Vila Chã de Ourique

Passeio de pasteleiras com memória

O Centro Social Ouriquense organizou, este domingo (2 de julho), em Vila Chã de Ourique mais um passeio convívio de bicicletas antigas “pasteleiras”, onde mais de 50 pessoas pedalaram sob um calor intenso pela memórias de outros tempos.

Com encontro marcado pela manhã no Centro Social Ouriquense, o passeio de bicicleta começou com dezenas de bicicletas, muitas das quais velhas pasteleiras, a dirigirem-se ao Museu Rural e do Vinho do concelho do Cartaxo. Antes das 11h, chegados ao complexo da Quinta das Prata, começou a visita ao Museu e, cá fora, à volta do coreto já se ia assando os chouriços e comendo a bucha. José Manuel Silva, da organização deste evento, contou-nos que foram entregues os 48 sacos de pano com a bucha – chouriço, chouriça, pão e navalha –, mas muitos mais aderiram. Homens, mulher, jovens e crianças ocuparam toda a parede frontal do edifico do Museu com as suas bicicletas, enquanto ali estiveram a retemperar forças, descansando e comendo debaixo da frescura das árvores, num dia em que as temperaturas ultrapassavam os 30ºC.

Para além do assador, e das mesas de apoio à bucha, foi preparado um cenário de outros tempos no campo, nomeadamente na vinha, com os utensílios usados à época para fazer o almoço: a burra (ferro que sustenta a panela em cima das brasas), a assadeira feita de arame, o corno do azeite, as cabaças, uma com o sal e outra com as azeitonas e o pão, para fazer as toiras. Carlos Ribeiro, também da organização, falou ainda do transporte do vinho para a jorna, apontando para uma das pasteleiras que ali se encontrava e na sua traseira trazia um pequeno barril, tal como nos tempos antigos. José Manuel Silva lembra-se bem desses tempos, ainda jovem, em que o dia de sábado e a manhã de domingo eram para ir ajudar o pai na vinha e “só a tarde de domingo restava para namorar”. Eram tempos em que não havia facilidades, o meio de transporte era a bicicleta e nela tinham de levar o que precisavam para o dia-a-dia, o que os levava a improvisar, como afiar canas para servir de garfo e a fazer da côdea do pão a colher, recorda um dos mestres de bicicletas de Vila Chã de Ourique, Manuel Bernardes.

Manuel Bernardes foi um dos homenageados, neste dia, numa cerimónia que se realizaria após o almoço. Ainda usa a bicicleta, mas neste dia fez o passeio numa das carrinhas de apoio ao lado de Hélder Anacleto, da organização. Ainda se comia a bucha no jardim da Quinta das Pratas, primeira paragem do passeio e onde se fez a visita ao Museu Rural e do Vinho, quando este mecânico de bicicletas, com 87 anos, contou ao Jornal de Cá que ainda arranjou algumas das pasteleiras que neste dia fizeram Vila Chã de Ourique – Cartaxo e Cartaxo – Vila Chã de Ourique e ainda deram umas voltas pela vila.

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Muitas destas bicicletas, por certo encostadas a um canto da garagem, denunciavam a idade mas ainda conseguiram resistir ao passeio por terras do Bairro que os levou de volta a Vila Chã, para o almoço na antiga Casa Agrícola Manuel Henriques (atual Casa de 1927), onde não faltaram as sardinhas assadas.

Depois de almoço e sob um calor abrasador, principalmente para aqueles que fizeram questão de ir trajados a rigor, era hora do momento solene do dia: uma cerimónia de homenagem com condecorações de mérito profissional aos três mestres de bicicletas Manuel Bernardes e Damásio Mesquita (91 anos), ambos no ativo, e a José Marquez, a título póstumo. E foi na antiga oficina de José Marquez que os participantes no passeio de pasteleiras e outros ouriquenses assistiram a uma breve abordagem da história das pasteleiras, enquadrada na história e da vila, não sem antes o presidente da Junta de Freguesia, Vasco de Sousa Casimiro, que também participou na iniciativa, a rigor, frisar que “Vila Chã de Ourique é uma terra de boa memória e que foram homenageados três homens que fazem parte dessa memória”, reforçando que “devemos consagrar a memória e transportá-la para o presente e o futuro”.

Os chafarizes da vila, que serviam a população antes de haver água canalizada, também foram tema de referência neste dia, sendo protagonistas da percurso que os convivas haviam de fazer, de bicicleta, após este curto colóquio, numa concentração no chafariz da Praça dos homens, no jardim central. Seguiram-se os chafarizes do Venceslau (zona das camarinhas), do Largo da Hermínia (camarinhas de baixo), da Praça das mulheres e, por fim, do Casal da Velha. Num dia em que o sol queimava e a dureza das pasteleiras cansavam o corpo, esta volta serviu para refrescar as dezenas de participantes, não só com a água dos chafarizes, mas também com as bebidas refrescantes dos cafés em que, entretanto, se ia entrando, o que para Hélder Anacleto faz todo o sentido, pois todas as iniciativas que o Centro Social Ouriquense organiza têm também por objetivo a dinamização da terra e dos seus comerciantes.

Hélder Anacleto com Manuel Bernardes, um dos homenageados deste dia

Terminado o passeio, no Centro Social Ouriquense, os participantes receberam certificados de participação. Foi um dia bem passado e que deverá repetir-se numa outra ocasião.

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