Covid-19: repercussões para o século XXI

Por Afonso Morango

A longo prazo, o surto pandémico que abalou o mundo nos últimos anos terá visíveis consequências nos sistemas políticos, económicos e sociais, deixando ainda várias incertezas para o futuro do palco internacional e da sociedade na era pós-pandemia.

Muitos autores utilizam o conceito de critical junctures, ou seja, momentos de mudança, escândalos, crises ou conflitos que abalam o status quo e as relações de poder de forma tal que abrem portas a reformas previamente impensáveis. Tais eventos incluem crises sanitárias e encontros com doenças infeciosas que desempenharam um papel fulcral na evolução das cidades, na expansão das rotas comerciais, nas guerras e nas quedas de Impérios que viam as suas fronteiras estenderem-se ao longo de vários continentes.

A nível político, a pandemia do Covid19 lançou um escrutínio inédito sobre líderes políticos e os sistemas de governação, expondo os seus pontos fortes e fraquezas em preparar, detetar e de resposta a crises. Também assistimos à utilização do vírus por líderes autoritários com a intenção de banirem protestos e, em casos mais extremos, cancelarem eleições ao declararem estados de emergência. Por outro lado, certos autocratas continuaram simplesmente a fazer mais do que já faziam anteriormente, sabendo desta vez que, durante a crise pandémica menos eram aqueles que estavam atentos.  Em diversos regimes, a pandemia foi explorada enquanto justificação para estratégias antidemocráticas com o propósito de solidificar estruturas de poder e sabotar a democracia.

Por outro lado, o COVID-19 perturbou o funcionamento de instituições estatais e as suas interações com a sociedade, criando também oportunidades para a sociedade civil através de protestos e ativismo, bem como organização social, para apoiar comunidades e famílias a quem as respostas oficiais falharam. Um legado duradouro desta pandemia será, talvez, o ajustamento de debates acerca do tipo de Estados que falham e do futuro do contrato social com o cidadão.

Por outro lado, as agências de ajuda internacional foram forçadas a responder perante situações humanitárias graves extraordinárias. É necessário capital e há o risco de, nos anos vindouros, a atenção e os recursos serem afastados de algumas das regiões e populações mais vulneráveis do mundo.

São verdadeiramente impressionantes as diferenças nas respostas mundiais à pandemia da COVID-19. Ao nível da liderança nacional, o momento assemelha-se ao período que se seguiu à Primeira Grande Guerra – uma crise que deixou um legado de suspeita e não cooperação durante décadas, lançando as sementes que viriam a culminar catástrofes futuras. Mas nas ruas e comunidades, com o avolumar da solidariedade e da compaixão, também se viveram momentos de coragem e criatividade, de novas formas de organização humana a emergir para fazer do mundo um lugar melhor.

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É necessário que as pessoas abracem, estudem e compreendam esta história a fim de poder moldá-la, história essa que está a ser escrita por todos neste momento.

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