Neste período de pandemia, em que ‘prevenir’ é a palavra de ordem, é crucial relembrar a importância de prevenir também o surgimento de problemas nos pés, que são o alicerce da nossa postura, sustentando o corpo e permitindo a marcha.
Os pés são submetidos, dia após dia, a uma grande tensão e desgaste. Além disso, a possível ocorrência de traumatismos, a utilização de calçado inadequado, a adoção de posturas incorretas, os fatores ambientais e a ausência de cuidados, que podem tornar os pés vulneráveis à ação de bactérias, vírus ou fungos, contribuem para o surgimento de lesões e problemas podológicos.
Por passarem a maior parte do tempo escondidos pelo calçado, os pés são frequentemente esquecidos. No entanto, vigiá-los diariamente é o primeiro passo para a deteção de alterações, permitindo um diagnóstico precoce e um acompanhamento adequado, de modo a prevenir o agravamento de complicações resultantes, por exemplo, de feridas ou bolhas. Além de estar alerta para possíveis alterações da pele, que podem ser sinais de micose no pé, no respeitante às unhas, deverá estar atento a irregularidades relativas ao seu formato, textura e coloração.
Para proteger a integridade da pele e preservar a saúde dos pés, que estão muitas vezes sujeitos a condições de calor e humidade, que favorecem o desenvolvimento de fungos responsáveis por infeções, recomenda-se uma lavagem diária dos pés. Neste sentido, lembre-se de que uma correta higiene inclui: lavar os pés com água morna e um sabão de pH neutro; secá-los com uma toalha macia, sem esquecer os espaços entre os dedos; e a aplicação de um creme/loção hidratante, o que contribui para manter a pele dos pés suave e hidratada, protegendo-os dos agressores externos e ajudando a prevenir as calosidades.
Isto porque, ao contrário de outras áreas do corpo, através das quais o suor pode evaporar facilmente, o uso de sapatos e meias pode levar à concentração de humidade. Assim, e de modo a prevenir o desenvolvimento de fungos e o crescimento de bactérias responsáveis por maus odores, nomeadamente com a chegada da primavera, além de trocar de meias diariamente, deverá também alternar o seu calçado, evitando o seu uso contínuo. Aconselha-se que coloque os sapatos a arejar e que aguarde, pelo menos 24 horas, antes de calçar os mesmos sapatos novamente. Escolha também um calçado que permita a ventilação do pé, de preferência em pele, e meias de fibras naturais, preferivelmente de algodão.
Caminhar descalço tem as suas vantagens ao nível da circulação sanguínea, induzindo um estado de relaxamento perante os esforços a que os pés estão sujeitos no dia a dia. Contudo, mesmo em casa, deve evitar passar longos períodos sem calçado, uma vez que este tem como principal missão proteger os nossos pés, fornecendo-lhes estabilidade, com a capacidade de amortecer o impacto dos pés com o solo. Ao andar descalço está a deixar os seus pés expostos a perigos e também a impurezas, fazendo com que a pele perca a sua humidade e com que fique ressequida, o que pode levar ao surgimento de fissuras.
No respeitante ao calçado, não se esqueça de que este deve ter entre três a quatro centímetros de sola e não mais, uma vez que quanto maior for a altura dos sapatos, menor a superfície de apoio do pé. Já os saltos completamente rasos, como chinelos e sabrinas, são também uma opção a evitar, pois a sua sola é demasiado fraca para amortecer o impacto do pé nas superfícies duras. Além disso, não oferecem um bom suporte ao arco do pé, pelo que a sua utilização regular está associada ao desenvolvimento de fasceíte plantar. Os chinelos abertos deixam também o pé exposto, aumentando o risco de lesões.
Complementarmente, não deixe as unhas dos pés demasiado longas ou curtas. Tenha antes em conta a linha dos dedos como medida. Não faça um corte arredondado nos cantos, de modo a permitir que a unha cresça para além da pele nas margens, e lave primeiramente as mãos.
A Podologia é uma especialidade do ramo da saúde que tem como objetivo estudar, prevenir, diagnosticar e tratar todo o tipo de patologias que incidem a nível do pé, bem como todas as repercussões que atingem o sistema locomotor.
Por Francisco Oliveira Freitas, podologista responsável pelo Centro de Podologia de Famalicão