1 Este mês li um artigo que colocava uma pergunta engraçada, “Que idade tem na sua cabeça?”, e que procurava (e conseguia!) demonstrar que a idade com que nos vemos não é a idade que realmente temos.
O artigo dava várias explicações para a diferença entre a nossa idade real e a que entendemos ter e apresentava vários estudos que demonstravam que esta realidade é transversal a géneros, classes sociais, profissões, nacionalidades, etc. Com algumas exceções, a coisa parece aplicar-se mesmo a toda a gente. Os adultos depois dos 35/40 anos vêem-se a si próprios cerca de 20% mais novos do que a sua idade real.
Confesso que nunca tinha pensado nisto assim, mas parece-me que é verdadeiro, explica algumas coisas sobre como nos vemos e encaramos o envelhecimento e também como, normalmente, em todas as idades vamos aceitando as alterações físicas que a idade nos traz (afinal nós não as vemos assim tão bem e sentimo-nos sempre mais novos do que o somos).
– E tu – permitam-me que vos trate assim familiarmente: – E tu que idade tens na tua cabeça?
2 Há coisas evidentes que quando se formulam de uma determinada forma ganham relevância ou, pelo menos, uma objetividade e consistência que nos deixam a pensar. E para isso não releva o seu valor intrínseco ou as consequências que daí possam advir para nós, para os outros ou para a comunidade. São informações (momentaneamente) relevantes que podem levar-nos as outras ideias e pensamentos (ou não), mas que quando as apreendemos percebemos que fazem todo o sentido, têm outras implicações, mas que nunca pensámos nelas claramente até as lermos ou até as ouvirmos formuladas de uma determinada forma.
3 Para isso também estamos de estar sempre ou quase sempre disponíveis para ouvir, para ver, para tentar compreender para lá da nossa própria mediocridade, normalidade ou singularidade – chamem-lhe o que quiserem –; temos mesmo de nos manter abertos a desafios, a outras ideias; desafiarmo-nos a nós próprios e sairmos das nossas zonas de conforto, intelectual, física ou ideologicamente. O contrário embrutece-nos, radicaliza-nos e, por arrasto, embrutece e radicaliza a sociedade.
Limitarmo-nos a ver, ler ou ouvir aquilo com que concordamos, aquilo com que nos identificamos, com o que nos sentimos confortáveis: atrofia-nos, diminui-nos, envelhece-nos! E ninguém devia querer isso para si.
4Do mesmo modo, quando se fala só para quem nos quer ouvir, para quem sabemos que não discordará de nós ou só para impressionar a plateia de apaniguados, quando se tenta fazer sorridentes brilharetes deturpando a verdade dos factos e dos números e se troca a informação pela imaginação, pela fantasia, às vezes – quase sempre! –, quando o contraditório vem, acaba-se em posições desconfortáveis, tristes, sem honra para defender, por mais que se a invoque.