Depois de duas semanas de casa cheia, “Dá Raiva Olhar Para Trás” de John Osborne, com encenação de Frederico Corado, chega à sua última sessão no Cartaxo, na próxima sexta-feira, 27 de maio, às 21h30, na Galeria José Tagarro.
Os primeiros dias de casa cheia na Galeria José Tagarro têm feito chegar “os mais rasgados elogios do público”, que tem aplaudido entusiasticamente esta peça de John Osborne e as interpretações de Vânia Calado, João Vítor, Gabriel Silva, Inês Custódio e a participação especial de Joel Branco.
Entre os elogios à peça está o do crítico Tito Lívio que escreveu “Num “espaço vazio”, “parafraseando Peter Brook, Frederico Corado conseguiu reproduzir o quarto claustrofóbico e asfixiante da vidazinha medíocre de Jimmy, sua companheira, e o amigo Cliff, a quem se juntará, mais tarde, a melhor amiga de sua mulher. (…) E o momento supremo de um grande e veterano actor, no final, Joel Branco. Que dá gosto ver e ouvir na composição do velho senhor, agarrado ainda a antigos valores e à colonização da India pela velha Inglaterra. São assim dois universos antagónicos que se chocam entre si, assumindo as camadas mais jovens uma revolta, ela própria, sem direcção e não eficaz. Lembrando os personagens que, por exemplo, James Dean protagonizou em “A Leste do Paraíso” de Elia Kazan e “Fúria de Viver” de Nicholas Ray. Uma peça que um público, sobretudo jovem, acolhe bem, aplaudindo e enchendo o novo Teatro improvisado à pressa, após um aparatoso incidente nas suas antigas instalações. Deve assim, e dada a qualidade deste espectáculo, a Câmara Municipal do Cartaxo apoiar este projecto, Área de Serviço, uma Companhia que só honra e prestigia a cidade em que se insere e que, com a sua acção, vai fidelizando um bom e regular público.”
Esta é a 28ª produção da Área de Serviço, que com este espectáculo celebra o seu décimo aniversário. “O balanço feito não pode ser mais positivo e a aposta em “Dá Raiva Olhar para Trás” (Look Back in Anger) parece-nos ter sido totalmente ganha. O Cartaxo, o público e a crítica receberam este, que é um dos maiores clássicos do teatro britânico, de braços abertos”, refere a Área de Serviço, que já está a planear novas sessões com datas a fechar para outras salas do país.
“Dá Raiva Olhar Para Trás” reflete o clima na Grã-Bretanha em meados dos anos 50, olhando de forma extremamente pertinente para o contexto histórico, político, cultural e social.
John Osborne, um dos “angry young man” escreveu um dos marcos do teatro inglês ao pôr em palco jovens ingleses que não tinham participado na Segunda Guerra Mundial e onde descobriram que as suas consequências não eram promissoras.
Jimmy Porter parece não conseguir melhor do que o seu trabalho numa loja de doces, é um jovem inteligente, mas insatisfeito, proveniente da classe operária, casado com Alison, uma jovem de classe média-alta com quem mantém uma relação tóxica, entre a cumplicidade e o abuso. A melhor amiga de Alison, Helen, aconselha-a a abandonar Jimmy, mas acaba por se envolver romanticamente com ele. História de um triângulo amoroso, “Dá Raiva Olhar Para Trás” é também um retrato desolado da vida das classes trabalhadoras inglesas no fim os anos 50 e um olhar crítico sobre o sistema de classes.